DENISE BOBADILHA
especial para a Folha

Steve Rose é ateu. Nick Cave e Will Self são ex-viciados em drogas. Em comum, os três -o primeiro é cientista; o segundo, músico; e o terceiro, escritor- são autores de preciosas introduções para a mesma coleção de livros, nada menos do que a "Bíblia", separada em livros diferentes.
Lançada pela editora escocesa Canongate, a primeira coleção de 12 cadernos bíblicos em inglês chegou às livrarias britânicas no mês passado. Outros 12 livros virão no ano que vem.
A idéia dos editores é apresentar a "Bíblia" ao público dos anos 90. Para isso, cada livro escolhido do "Antigo" e do "Novo Testamento" ganhou cadernos separados, em papel couché, com letras maiores, imagens em preto-e-branco na capa feitas por fotógrafos contemporâneos e introduções polêmicas.
A tradução escolhida da "Bíblia" foi a do rei James, feita no início do século 17, que tem grande ligação com o nascimento da literatura moderna e da língua inglesa.
Para o inglês Jamie Byng, 29, dono da Canongate e editor por trás da polêmica iniciativa, é hora de ver as Sagradas Escrituras com outros olhos. "A "Bíblia' não é apenas um texto religioso, mas um maravilhoso conjunto de ensinamentos, filosofia e poesia em forma de histórias contadas", disse, em entrevista à Folha.
Cada edição da série, chamada de "Pocket Canons", um trocadilho com cânones de bolso usando também o nome da editora, é vendida a uma libra ou cerca de R$ 2.
No Reino Unido, a igreja foi receptiva, apesar do boicote de um grupo religioso radical. Os direitos já foram vendidos para pelo menos 11 países. Uma editora brasileira chegou a iniciar uma negociação, mas aparentemente o processo foi interrompido.
Para os editores, a principal função da série é levar a "Bíblia" ao leitor dos anos 90, que teve seu primeiro contato com o texto muitas vezes por obrigação religiosa ou escolar e, por isso, nunca mais se interessou por ele. Assim, os colaboradores escolhidos para introduzir cada um dos livros são pessoas da área literária.
Apenas dois nomes -um bispo e o biógrafo A.N. Wilson, autor de livros sobre a vida dos apóstolos e de Jesus Cristo- têm ligação com a religião. Steve Rose, o cientista, que é judeu, ateu e ficou conhecido por pesquisas na engenharia genética, foi o escolhido para comentar "Gênesis", em que a teoria da criação divina é explicada.
Para a escritora A.S. Byatt, famosa por seus romances de enfoque feminino, a tarefa foi falar do poema de amor que é "Cântico dos Cânticos", de Salomão.



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