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'Trem' atropela o olhar ligeiro
da Reportagem Local
Mesmo sem
abrir o livro, alguns críticos dizem que "Trem
Noturno" é uma
obra de "segunda divisão" dentro da literatura
de Martin Amis.
Não é difícil fazê-lo. O livro anterior do escritor britânico, "A Informação", é claramente mais ambicioso e complexo, reúne o triplo de
páginas e teve seus direitos negociados por US$ 800 mil.
"Trem Noturno" é um livro policial, que tem como fio condutor a
busca que a masculinizada detetive Mike Hoolihan faz de pistas sobre o provável suicídio da linda, rica e loira Jennifer Rockwell.
Mas o resenhista que apenas tateia informações nas orelhas do livro, ou faz julgamentos a partir de
seu tema, muito menos glamouroso, a olho nu, do que o de obras anteriores, perde toda a polpa de
"Trem Noturno". Priva a vista de
frases como: "No trabalho da polícia, você logo se familiariza com o
que chamamos de suicídio "é-tá-certo'. Aquele que você entra pela
porta, vê o corpo, dá um olhada no
quarto e diz: "É, tá certo'".
"Trem Noturno" é repleto de
momentos assim. De um inglês,
nascido e educado em Oxford, fazendo contorcionismos para atingir a poesia popular da América.
A graça literária desse livro não
está apenas no malabarismo do escritor, e também não fica iluminada, como uma estrada recém-inaugurada. Surge, como surgem das
névoas faróis de um trem noturno.
Se a imagem anterior lhe parece
familiar (e talvez de mau gosto), isso não é acidental. "Trem Noturno" é feito de palavras novas, frases novas e situações novas, mas se
os olhos forem mais ligeiros do
que a locomotiva descrita acima, o
novo livro de Martin Amis pode
parecer aquilo que se vê de dentro
de um vagão: apenas borrões bastante conhecidos.
(CEM)
˛
Livro: Trem Noturno
Autor: Martin Amis
Lançamento: Companhia das Letras
Quanto: R$ 19 (144 págs.)
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