São Paulo, sexta-feira, 21 de dezembro de 2001

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DANÇA

Municipal do Rio mostra o balé do Natal

INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

Desde sua estréia em 1893, o balé "O Quebra-Nozes" tem servido regularmente para comemorar as festas de fim de ano, nos mais diversos teatros do mundo. Com coreografia de Marius Petipa e Lev Ivanov e música de Tchaikovski (1840-93), "O Quebra-Nozes" traz tudo o que se espera de um balé de Natal: encantamento, festa, brilho e lágrimas. Ao que se somam, ainda, doses especiais de virtuosismo, como se pode ver no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, onde os corpos estáveis dançam uma versão adaptada por Dalal Achcar.
A coreografia de Achcar conserva a essência do balé, mas acrescenta sua dose de inovação, especialmente em momentos lúdicos, com participação das crianças da escola de dança Maria Olenewa. As sequências coreográficas continuam baseadas em movimentos relativamente simples, mas com novas exigências de atuação teatral (o calcanhar-de-aquiles dos bailarinos). A companhia se sai muito bem, com destaque esperado e confirmado para Tiago Soares, que arrebata a platéia com sua energia e seus giros.
"O Quebra-Nozes" é o menor dos três balés de Tchaikovski (menor, isto é, que "O Lago dos Cisnes" e "A Bela Adormecida"). A lenda, inspirada num conto de E.T.A. Hoffmann, deixa de lado quase toda a ironia do escritor romântico alemão e traduz o balé para um mundo de fantasia, sonhos, neves, flores.
Nem por isso é menos sofisticado e engenhoso. Na famosíssima "Valsa das Flores", por exemplo, as melodias características de Tchaikovski criam uma tensão expressiva complementar das harmonias da dança.
Os passos são simples, mas ganham uma força incrível pelo desenho coreográfico e pela precisão do conjunto.
Nesta temporada, a Orquestra Sinfônica Municipal está sendo regida pelo experiente Henrique Morelenbaum, que regeu a estréia, em 1974, desse mesmo "O Quebra-Nozes" de Dalal Achcar. É um maestro atento para a dança, que mantém sua orquestra sempre musicalmente atenta aos pés dos solistas, distendendo ou acelerando ligeiramente o andamento conforme o caso.
Na estréia, dia 24 de novembro, o solista Marcelo Gomes (atualmente bailarino do American Ballet Theatre) mostrou seu previsível mas nem por isso menos elogiável virtuosismo. Sua "partner", Cecília Kerche, é outra que está num belo momento da carreira; seu desempenho valoriza o papel com linhas que literalmente arrancam suspiros da platéia.
Cenário, iluminação e figurino compõem a cena toda em clima de festa, com direito até a uma árvore de Natal gigantesca, que encanta a menina Clara.
"O Quebra-Nozes" pode não ser a dança de cabeceira de ninguém. (Nem no Rio nem em São Paulo, onde a montagem anual do "Cisne Negro", de ambições menores, também está em cartaz, no teatro Alfa.) Mas a felicidade desse balé não pode ser menosprezada.
A felicidade não pode jamais ser menosprezada, e "O Quebra-Nozes" é uma de suas encarnações definitivas. Grande programa -e mais um ponto para dança no Rio de Janeiro.


A jornalista Inês Bogéa viajou a convite da produção do espetáculo
O Quebra-Nozes
    
Onde: Theatro Municipal do Rio de Janeiro (pça. Floriano, s/nš, tel. 0/xx/21/ 2262-3935)
Quando: nesta semana, dom., às 17h (com orquestra); semana que vem, qui. a sáb., às 19h30, e dom., às 17h (com fita); até 6 de janeiro
Quanto: de R$ 10 a R$ 180

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