São Paulo, sexta-feira, 21 de dezembro de 2001

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MEMÓRIA

O sex-symbol forjado pelo Sul da França

DO "LE MONDE"

Os primeiros passos de Bécaud no Olympia foram dados em 5 de fevereiro de 54. Ele era "o galã norte-americano" de Lucienne Delyle, uma cantora então muito popular. Bécaud já usava um terno azul elétrico, camisa branca, gravata de bolinhas. Ele pulou, dançou, cantou com prazer imenso, levando a mão à orelha para não perder afinação.
O Olympia acabara de reencontrar sua vocação como teatro de music-hall, graças ao novo proprietário, Bruno Coquatrix. Em fevereiro de 55, Bécaud, sex-symbol do período, apresentou-se em uma matinê de sexta-feira. Havia 4.000 garotas pressionando as portas, dobro da capacidade do teatro. No final, "restavam centenas de cadeiras destruídas e uma quantidade honrosa de calcinhas no palco", relembra Jean-Michel Boris no livro "28, Boulevard des Capucines", de Marie-Ange Guillaume e Jean-Michel Boris.
Bécaud sempre se manteve fiel ao seu público, aos seus letristas, aos músicos que o acompanhavam. Em cena, ele fazia piadas, brincava com as letras, dublava canções. No ápice de sua glória, fazia 200 apresentações por ano. Grande profissional, Bécaud às vezes gravava trabalhos catastróficos, como "Desirée", que ainda assim vendeu 1,8 milhão de cópias, e recebia críticas severas.
Casado duas vezes, pai de seis filhos, nos últimos anos Gilbert Bécaud dividia a vida entre sua propriedade no Poitou, onde criava cavalos árabes, uma mansão na Córsega e um barco fundeado em um rio na região parisiense.
Em 97, recebeu o primeiro aviso sobre um câncer de mandíbula. Mesmo assim, no dia 13 de novembro daquele ano, inaugurou a nova sala do Olympia.
Entre os fantasmas do artista, o uísque, uma agenda sobrecarregada; entre suas alegrias, as crianças crescidas, o prazer do piano. Mas, em primeiro lugar, a infância, a de uma criança do Sul da França. "Quand t'es petit dans le Midi, t'es pas petit comme ailleurs... (Quando você é criança no Sul, você não é criança como em outra parte...).


Tradução Paulo Migliacci


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