São Paulo, sábado, 21 de dezembro de 2002
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LIVROS/LANÇAMENTOS Histórias de gente e bichos
FRANCESCA ANGIOLILLO FREE-LANCE PARA A FOLHA Era uma vez um dedicado contador de histórias. Juntando histórias de gaúchos, contou a história de seu Estado, o Rio Grande do Sul. E, como bom representante de seu ofício, também inventou contos para crianças. O narrador é Erico Verissimo (1905-1975), famoso pela trilogia "O Tempo e o Vento", mas também autor dos infantis "O Urso com Música na Barriga" e "A Vida do Elefante Basílio" - relançados pela Companhia das Letrinhas, inaugurando a coleção que terá o nome do escritor gaúcho. Conhecido por seus títulos para o público adulto, Verissimo era, no entanto, atento ao mundo infantil, como relembra seu filho, o jornalista e escritor Luis Fernando Verissimo (autor de "O Analista de Bagé", "As Mentiras que os Homens Contam" e outros). "O pai sempre gostou muito de criança. Não sei se o nascimento dos filhos provocou os livros infantis, mas eles foram todos escritos depois que a Clarissa e eu nascemos", diz Verissimo filho. Nascido em 1936, Luis Fernando diz não ter certeza se as histórias que compõem os livrinhos foram inicialmente relatos "testados" pelo público mirim do lar dos Verissimo. O escritor era ainda um bebê quando o pai publicou "O Urso com Música na Barriga", em 1938, e "A Vida do Elefante Basílio", no ano seguinte. O que não significa que o pai não usasse seus dotes narrativos para deleite da família. "Ele contava histórias de avós e tios, que imitava com muito humor, mas não eram histórias para criança. Algumas entraram em livros para adultos, como "O Retrato" e "O Arquipélago'", diz, referindo-se ao segundo e ao terceiro volumes de "O Tempo e o Vento". Luis Fernando Verissimo lembra qual era seu preferido entre os textos infantis do pai: "As Aventuras do Avião Vermelho", o próximo título a sair na série, que se completa com outros quatro: "Os Três Porquinhos Pobres", "Outra Vez os Três Porquinhos", "Rosa Maria no Castelo Encantado" e "Gente e Bichos". De gente e bichos, aliás, tratam os dois livros que abrem a "Coleção Erico Verissimo". "O Urso com Música na Barriga" conta as peripécias do filhote caçula de uma família de ursos que vive no Bosque Perdido e que, confundido com um brinquedo, vai parar num lar humano. Destino parecido tem o Elefante Basílio, protagonista do segundo livro, que é abrigado por uma família depois de salvar um menino de um incêndio no circo. Não são historinhas curtas, e por isso é possível que sejam mais apropriadas a crianças que já estejam familiarizadas com a leitura. Por exemplo, nenhum dos dois volumes começa "direto no assunto", o que pode cansar os menores. Por outro lado isso dá oportunidade para o autor exercitar seu senso didático. O colorido das tramas se completa com a preocupação de consolidar valores. Luis Fernando Verissimo diz, porém, que o pai não cuidava "ostensivamente" disso. "Mas havia a intenção de transmitir mensagens, se esta é a palavra, positivas, divertindo." Não que Verissimo se servisse do maniqueísmo fácil. É por fugir desse reducionismo que suas histórias se destacam no farto universo dos livros infantis. "Não penso que tenha havido decisão de evitar o maniqueísmo, mas ele se preocupava em escrever histórias originais, não seguir padrões estabelecidos ou chavões", diz Luis Fernando. Originalmente publicados pela Globo, os livros ganham ilustrações e projeto gráfico de Eva Furnari. Dona de trabalho reconhecido no Brasil e no exterior, autora e ilustradora de 50 títulos infantis, Furnari complementa com graça as palavras do autor gaúcho. O URSO COM MÚSICA NA BARRIGA e A VIDA DO ELEFANTE BASÍLIO - De: Erico Verissimo. Editora: Companhia das Letras (0/xx/11/3167-0801; www.companhiadasletras.com.br). 48 e 56 págs., respectivamente (R$ 22 cada). Texto Anterior: Livros/Lançamento - "Doutor Jivago": Livro supera cinema em força poética Próximo Texto: Crítica: "Colheitas" de Erico continuam a gerar frutos saborosos Índice |
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