São Paulo, sábado, 21 de dezembro de 2002

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LIVROS/LANÇAMENTOS

"OS MISERÁVEIS"

Romance de 1862 do francês ganha nova edição, que traz imagens ilustrando a caixa e os dois volumes

Victor Hugo engloba o espetáculo da vida

MARCELO PEN
CRÍTICO DA FOLHA

"Este livro é um drama cujo primeiro personagem é o infinito. O homem é o segundo", diz em certo momento o narrador de "Os Miseráveis", de Victor Hugo, uma das obras literárias mais famosas de todos os tempos -e que agora recebeu escrupulosa edição da Cosac & Naify.
Imagens de Géricault, Delacroix e Toulouse-Lautrec ilustram a caixa e os dois maciços volumes, mas os editores não cuidaram só do aspecto gráfico. A versão de 1957, feita para a Editora das Américas, foi reformulada pelo próprio tradutor, Frederico Ozanam Pessoa de Barros. Ele não só modernizou a linguagem e afinou o texto como ampliou o número de notas (hoje mais de 800).
O enredo mirabolante, que fez os leitores se digladiarem por um exemplar na época do lançamento (1862), foi adaptado inúmeras vezes para o cinema e o teatro. Só o xaroposo musical da Broadway atraiu 45 milhões de espectadores, que se emocionaram com as aventuras de Jean Valjean, Cosette e o policial Javert, na França do período da Restauração.
Valjean é o miserável preso e condenado às gales pelo roubo de um pão. Redimido pelo bispo Myriel de seu justo ódio pela iniquidade das instituições, passa quase dois terços do livro fugindo do implacável Javert. Nesse meio tempo, ajuda Cosette, que adota informalmente após a morte da mãe dela, a prostituta Fantine.
Mas a narrativa não se prende só à intriga melodramática, que inclui ainda o "affair" entre Cosette e o jovem republicano Marius, destacando também episódios da história da França, como a batalha de Waterloo e a Revolução de 1830 contra o rei Carlos X.
No prefácio a esta nova edição, Renato Janine Ribeiro afirma que uma das originalidades da obra está no fato de Hugo ter apresentado a pobreza como tema, um assunto novo no século 19. De fato, a ficção já procurava alargar o espectro de representação. Stendhal e Balzac jogaram os holofotes, pela primeira vez na literatura não satírica, sobre pessoas de baixa extração social -o que também faz Dickens, na Inglaterra.
Hugo seguiu a tendência de alargamento de horizontes. Ladrões, policiais, prostitutas, bispos, soldados, comerciantes e revolucionários convivem num largo painel social descrito com tintas ora épicas, ora sentimentais, ora dramáticas.
O romance como gênero literário cada vez mais tinha a ambição de abarcar o conjunto completo da experiência humana. Por isso, a nos valermos da frase do narrador, apenas a representação da pobreza é pouco. "Os Miseráveis" procurava, na sua ambição romântica, englobar todos os aspectos do espetáculo da vida.


Os Miseráveis
    
Autor: Victor Hugo
Tradutor: Frederico Ozanam de Barros
Editora: Cosac & Naify
Quanto: R$ 86 (dois vols.; 1.288 págs.)



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