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São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 2003

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CRÍTICA

"Celebridade" é novela à antiga

BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA

Até agora, o melhor que se pode dizer sobre "Celebridade" é que, ao contrário das novelas que a precederam, Gilberto Braga ainda acredita em roteiro. Não passa uma semana sem que as revistas e sites sobre TV noticiem reviravoltas da trama e arrisquem especulações sobre os destinos das personagens.
As últimas novelas pareciam sugerir que um novo tipo de ficção seriada para TV estava se firmando. Em tudo assemelhadas às novelas tal como as conhecíamos antes, a nova novela, aquela praticada por Manoel Carlos e Glória Peres, prescinde de uma história. Baseadas em situações circulares e tensão quase zero, novelas como "Mulheres Apaixonadas" e "O Clone" envolvem o espectador num tempo e espaço vazio de acontecimentos -e, portanto, de motivações e psicologia do personagem.
"Celebridade", perto desses dois exemplos, sofre de uma espécie de hiperatividade. Já teve sequestro frustrado, casamento idem, volta do filho pródigo, reconciliação de sogro e genro, morte de filho, encontros amorosos ardentes etc. Mas o principal é que tudo isso parece obedecer a uma lógica ditada pelas ações e motivações das personagens.
É por isso que a novela vem suscitando diversas interrogações sobre o andamento da trama, que acabam por ser objeto das explicações as mais estapafúrdias. Afinal, por que Laura (Claudia Abreu, excelente, por sinal) quer tanto destruir Maria Clara Diniz (Malu Mader)? Renato (Fábio Assunção) e Laura vão se aliar para destruir a inimiga comum? Como Ubaldo (Gracindo Júnior) vai se vingar de Lineu (Hugo Carvana)?

Velha escola
No formato recente que anda se impondo às novelas, diminuem de importância os fios condutores da trama e as motivações dos personagens, como se os autores quisessem deixar uma e outro "abertos" o suficiente para modificá-la ao sabor dos índices de audiência.
Braga, não. Braga ainda é da velha escola do folhetim -não por acaso, "Celebridade" tem um quê de retrô, de viagem a tempos (melhores) da teledramaturgia e da televisão.
Curioso é que essa impressão de anacronismo perpasse toda a novela. O Andaraí cenográfico está parado em algum lugar entre o final dos anos 60 e os anos 70. Tem algo dos anos 50 no fato de Maria Clara Diniz não morar sozinha e, sim, com a mãe e a irmã casada. Da mesma década é a música-tema de Fernando (Marcos Palmeira) e Maria Clara, "Ruby", sucesso dos anos 50 regravado por Ray Charles em 1960. Cenas picantes de Cláudia Abreu e Márcio Garcia acontecem ao som de "Sympathy for the Devil", faixa lançada pelos Rolling Stones em 1968, no disco "Beggar's Banquet".
Resta saber se a novela à antiga de Braga ainda tem lugar na TV contemporânea.

E-mail: biabramo.tv@uol.com.br





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