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Crítica/"Sombras de Goya"
Longa dá tratamento artificial à Inquisição
CRÍTICO DA FOLHA
O peso de encenar uma
reconstituição histórica não deveria mais
atrapalhar um veterano como o
tcheco Milos Forman, que já se
virou bem com esse gênero de
pompa e circunstância em
"Amadeus" (1984) e "Valmont"
(1989), mas ele não consegue
escapar das armadilhas que a
suntuosidade de "Sombras de
Goya" lhe preparou.
Lançado na Espanha em
2006 e com resultado pífio de
bilheteria nos EUA, o filme
-escrito por Forman e pelo
francês Jean-Claude Carrière- só agora chega ao Brasil,
em sua versão "internacional":
os personagens principais são
espanhóis, mas falam em inglês; ao fundo de diversas cenas
e no meio de alguns diálogos,
no entanto, ouvem-se expressões em espanhol.
Seria um detalhe irrelevante
se não destacasse, com essa pequena Babel imposta por leis de
mercado associadas exclusivamente ao interesse do público
norte-americano, o tratamento
artificial e pomposo empregado para tratar dos abusos cometidos pelo Santo Ofício da
Inquisição no final do século 18,
na Espanha.
Fantasmas
No título original, tanto em
inglês quanto em espanhol, as
tais "sombras" de Goya são, na
verdade, fantasmas: os que aparecem em suas gravuras como
figuras deformadas e sofredoras, que escandalizavam a igreja, e os de alguns personagens
de seus retratos, que caíam
pouco depois em desgraça.
Interpretado pelo sueco Stellan Skarsgard ("Dançando no
Escuro", "Dogville"), o pintor
da corte espanhola funciona
como conexão entre os dois
personagens centrais da trama:
um monge próximo ao comando da Inquisição (o espanhol
Javier Bardem, de "Mar Adentro") e uma jovem torturada
sob a acusação de ser "judaizante" (Natalie Portman).
Na primeira parte da trama,
que emparelha com a Revolução Francesa, ambos se conhecem em circunstâncias desfavoráveis e parecem selar seus
destinos.
Na segunda parte, 15 anos depois, Goya está surdo e os demais personagens, cada qual à
sua maneira, se tornaram fantasmas.
As reviravoltas da história
européia no período causam
pequenas surpresas, que o filme explora sem se concentrar
em nada a contento (seus 113
minutos soam, nesse sentido,
apressados), exceto na riqueza
de detalhes da suposta fidelidade histórica (e, nesse quesito
carnavalesco, seus 113 minutos
parecem arrastados).
(SR)
SOMBRAS DE GOYA
Direção: Milos Forman
Produção: EUA/Espanha, 2006
Com: Javier Bardem, Natalie Portman
e Stellan Skarsgard
Onde: estréia hoje nos Cine Bombril,
Frei Caneca Unibanco, Kinoplex e circuito
Avaliação: regular
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