Serj Tankian lança "Elect the Dead", que mantém críticas ao presidente George W. Bush e prenuncia fim da civilização

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL

Durante os dois mandatos de George W. Bush nos EUA, diversas bandas -do REM às Dixie Chicks- vêm batendo em sua presidência, mas nenhuma fez isso de modo tão consistente quanto os descendentes de armênios do System of a Down.
Depois de lançar cinco discos (e vender 16 milhões deles) do heavy metal mais original que este século ouviu, a banda entrou em um "hiato" em agosto do ano passado e seus membros começaram a se dedicar a projetos individuais.
O primeiro a lançar um álbum foi o vocalista Serj Tankian (se você acha o nome complicado, precisa ver como se escreve em armênio) e, pelo que se ouve em "Elect the Dead", a temporada de caça ao Bush segue aberta.
"Acredito que você está errado/ao insinuar que eles têm a bomba/Limpando o caminho para a brigada do petróleo", brada ele em "The Unthinking Majority" (a maioria não-pensante, provavelmente a que reelegeu o presidente norte-americano).
Mas o álbum traz mais do que a velha (e, convenhamos, até agora pouco eficiente) malhação do Judas. Numa divertida auto-entrevista disponível no YouTube (procure por "Serj Tankian interview himself"), o músico explica que suas preocupações são mais amplas.
"Se há uma mensagem é a de que a civilização acabou e precisamos decidir o que vamos fazer a seguir, como vamos sobreviver juntos."

Sozinho, mas nem parece
Tankian levou o conceito de "solo" realmente a sério e não apenas compôs todas as faixas como ainda gravou-as em casa, quase sozinho -além de cantar, tocou guitarra, baixo, piano, sintetizadores, escaleta "e várias beleza geradoras de tons", como diz no encarte.
O resultado, no entanto, é extremamente parecido com o som que fazia com seus companheiros de SOAD, como se nota já na primeira faixa (e primeiro single), a ótima "Empty Walls".
As diversas camadas de som em cada música, as súbitas explosões de guitarra/bateria/ gritos (ouça "Money"), as levadas de violão com refrão marcante (nas irmãs "Feed Us" e "Saving Us"), o gosto pelos "lalalala" de cabaré ("Lie Lie Lie").
"É, definitivamente, um álbum de rock", define o artista em seu site (www.serjtankian.com). "É um álbum movediço, com várias paradas e recomeços, mudanças de andamento. É deprimente, mas animador."
É uma obra para agradar aos fãs do System, em suma -apesar de não estar no mesmo nível dos melhores da banda. Para um sujeito talentoso e de grande habilidade vocal como Tankian, mesmo sendo um bom disco, é pouco ousado.