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RESENHA
Autor que queria revisar clássicos é agora só otimismo
especial para a Folha
Em seu livro de memórias, "O
Mundo Que Eu Vi", Zweig não
explica sua incrível capacidade de
produção, mas revela um plano
que define como "ousado": melhorar ou "reduzir seriamente"
clássicos da literatura mundial, de
"Homero a Balzac, Dostoiévski a
"A Montanha Mágica'".
Zweig via nas obras desses autores "passagens arenosas e arrastadas" e componentes "individuais
e supérfluos". Para não repetir os
erros em seus próprios livros, dizia que seu "verdadeiro trabalho"
era condensar, num "incessante
lançar-carga-fora-do-navio".
Não considerava esse trabalho
de editor sofrido, não parecendo,
ao escrever, se enamorar por frases ou passagens."
Em "Fernão de Magalhães", o
modelo está posto em marcha,
impondo um ritmo sedutor à leitura. Desde sua primeira linha,
"No princípio eram as especiarias", Zweig movimenta um arsenal de frases contidas. Nem mesmo a incrível simpatia demonstrada pelo biografado é capaz de
amontoá-las de adjetivos.
Mas estilo não é o principal atributo de seus livros. Há sempre
ensinamentos subjacentes e, em
"Magalhães", Zweig se esforça para demonstrar -e enfatizar-
seu ciclotímico otimismo pela espécie humana, inscrevendo a empresa de seu navegador numa inexorável "santa guerra da humanidade contra o desconhecido".
Com a proeza de Magalhães, ela, a
humanidade, "ganhou consciência de sua própria grandeza."
Zweig não é homem da Era Moderna e tem distanciamento para
enxergar os problemas causados
às populações nativas por seu
"achamento" pelos europeus.
Mesmo Montaigne, no capítulo
"Os Canibais", de seus "Ensaios",
já os insinua. Mas Zweig passa
por cima disso, e não pode ser
acusado aqui de eurocêntrico.
Importa-lhe mostrar uma certa
vocação inata e irrecusável da raça: "Um homem em sua pequena
e efêmera existência sempre pode
transformar em verdade eterna
aquilo que centenas de gerações
apenas sonharam antes".
Concluir que os fins justificariam os meios, pode parecer
apressado. Zweig deixou seu país
para não sumir numa câmara de
gás e teve seus livros proscritos.
Esforçando-se por mostrar os
obstáculos vencidos por Magalhães, desde as difamações sofridas em Portugal -de mesma natureza das que se abateram sobre
Camões-, à decisão de seguir
viagem quando a tripulação caçava ratos nos porões, Zweig pode
estar querendo falar de si.
(PV)
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