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MÚSICA
Produtor lança coletânea e afirma que o ritmo carioca deveria ser reconhecido como a tropicália e a jovem guarda
Electro é funk de butique, diz DJ Marlboro
ALEXANDRE MATIAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA
"É muita hipocrisia", desabafa o
lendário DJ Marlboro. Pai do funk
carioca, Fernando Luís Mattos da
Matta, 39, se refere ao sucesso da
passagem da DJ e cantora francesa Miss Kittin pelo Brasil. "Aconteceu o mesmo com a lambada,
que teve de ser sucesso lá fora para ser reconhecida por aqui.
Quem sabe o funk não tem a mesma trajetória?"
Passado, o gênero já tem. Criado em 1989, começou como os
muitos filhotes da disco (hip hop,
dancehall, house, tecno), em torno do quatro por quatro eletrônico e gritalhão executado pela dupla MC e DJ, que, no Rio de Janeiro, ganharam ares manhosos e
gaiatos, típicos do comportamento da metrópole praiana.
Desde então o funk carioca não
pára de se espalhar e ganhar território. Dos populares bailões ao
"Planeta Xuxa", passando pelos
gráficos e viscerais Proibidões até
o estouro de Kelly Key, suas dimensões apenas aumentam. Miss
Kittin, sob esta lógica, é apenas
mais um passo do gênero: "Esse
funk disfarçado, de butique
-com as mesmas batidas quebradas e os mesmos BPM do
funk- é apenas uma maneira
que alguns DJs encontram para
dizer que não tocam funk".
Aproveitando vácuos artísticos
para mostrar sua cara, o funk carioca nasceu do fascínio de Marlboro por um brinquedo novo: a
bateria eletrônica. E a história
desta descoberta entra para os autos da psicologia popular ao lado
de "Yesterday", dos Beatles, e "Satisfaction", dos Rolling Stones,
como músicas compostas durante o sono. O DJ conta que a primeira vez que viu o instrumento
foi nas mãos do antropólogo Hermano Vianna. "Mas ninguém sabia mexer", conta, lembrando do
entusiasmo que mal o deixou
dormir naquele dia.
"No sonho, aprendi a mexer e
programei", diz. "No dia seguinte,
liguei para ele logo de manhã e pedi para apertar os botões do jeito
que eu havia sonhado e deu certo.
Aí ele me deu a bateria. Foi um
dos melhores presentes que eu ganhei na minha vida, pois como
disseram, "é como se fosse dado
um rifle a um chefe indígena"."
Lançando a coletânea "As Melhores do DJ Marlboro", o DJ se
coloca como papa da eletrônica:
"O funk é eletrônico antes de existir essa denominação. Quem define o que é eletrônico e o que não
é?", briga, enfatizando o papel do
DJ no mercado. "É ele quem descobre, produz e executa, todo o
esquema da indústria fonográfica
completo numa só pessoa."
Montado em seu próprio império (a produtora Big Mix), Marlboro é orgulhoso de seus números: "Entre CDs próprios, artistas
que lancei, coletâneas internacionais e remixes produzidos, pode
colocar que eu lancei mais de 200
CDs. Isso em vendas ultrapassa a
marca de 4 milhões de discos, certamente". Toca em três festas,
além de passar por outras 12
("dou uma passadinha e sorteio
uns brindes"), agitando o que estima ser uma pequena multidão
de 12 mil pessoas por fim de semana. Fora uma coluna semanal
no jornal "O Dia", um portal na
internet (www.bigmix.com.br),
os 350 mil ouvintes por minuto
em seu programa de rádio e a segunda audiência da TV Bandeirantes carioca.
Mesmo assim, Marlboro acha
que o funk carioca ainda não se
estabeleceu.
"Acho que só seremos realmente reconhecidos quando resolverem fazer um funkódromo, quando as escolas fizerem concursos
de funk para incentivar a garotada a escrever e expor suas idéias.
Quando o funk for visto como
instrumento de pesquisa para a
sociedade descobrir o que essa galera pensa e a partir daí criar
oportunidade e perspectiva de vida aos jovens, que sempre manifestaram essas reivindicações por
meio da música -como um dia
foi a MPB, a bossa nova, a jovem
guarda e a tropicália. Hoje é o
funk."
AS MELHORES DO DJ MARLBORO.
Artista: DJ Marlboro. Gravadora: BMG.
Quanto: R$ 18, em média.
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