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Promotores vão investigar racismo nos desfiles da SPFW
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
EVA JOORY
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O Ministério Público abriu
um inquérito civil para investigar a eventual prática de racismo nos desfiles da São Paulo
Fashion Week.
A apuração cita como ponto
de partida os levantamentos
publicados pela Folha nos últimos dias 17 e 18. Nesses dias,
passaram pelas passarelas 344
modelos, dos quais só oito
eram negros -2,3% do total.
A proporção de negros nos
40 desfiles ocorridos durante
todo evento não difere muito
daquela dos dias citados. Levantamento da Folha aponta
que só 28 dos 1.128 modelos
eram negros -ou 2,5%.
Segundo dados do IBGE de
2006, 6,9% da população brasileira se declaram negros, 42,6%
dizem ser pardos e 49,7% consideram-se brancos.
As promotoras Érika Pucci
da Costa Leal e Cláudia Maria
Beré, do Grupo de Atuação Especial de Inclusão Social do
Ministério Público, justificam
a investigação por considerarem que é "necessário o combate à prática de todas as formas de discriminação, mais
ainda quando ocorrem em
eventos da magnitude e repercussão da SPFW", como escrevem na abertura do inquérito.
Às 21h de ontem, o diretor da
SPFW, Paulo Borges, ainda não
sabia da abertura do inquérito,
mas disse que, na sua opinião,
deveria tratar-se "de alguém
querendo se promover às custas do evento".
"Esse problema [da escassez
de modelos negros nas passarelas] existe há muito tempo, e
a culpa não é dos estilistas, é de
todo um sistema. Se quiserem
resolver o problema da discriminação no mercado de trabalho, que comecem nas escolas,
nos berçários, nas periferias. O
Ministério Público que vá a esses lugares para obrigar que haja alimentação, educação e
oportunidades para todos. No
abrigo onde eu adotei o meu filho, tem 30 meninos iguais a
ele", afirmou.
Recentemente, Borges adotou um menino negro de dois
anos. Para a edição inverno-2008, a organização da SPFW
escolheu como tema a diversidade racial, cultural e social.
Na opinião de Borges, a escassez de negros nas passarelas
"é resultado da exclusão cultural, social e econômica". "Mas o
fato é que também há poucos
negros preparados para a carreira de modelo. Não é preconceito, é uma herança. Quem
tem que mudar isso é a sociedade", afirmou ele.
Falta boa vontade
Na opinião do "stylist" Sandro Barros, alguns temas e temporadas não combinam com
modelos negras. "É mais fácil
ver negros nos desfiles de verão", diz.
Para o estilista Renato Kherlakian, a desproporção entre
modelos negros e brancos nas
passarelas é resultado da "falta
de boa vontade". "Não adianta
ter um "casting" de 40 modelos
com um negro apenas. É preciso garimpar melhor. Tem negros lindos, mesmo se o corpo
às vezes não corresponde às
medidas necessárias. A falta deles nas passarelas só prova que
o mercado de moda não evoluiu", afirma Kherlakian.
O estilista Dudu Bertholini,
das grifes Neon e Cori, afirma
que em seus desfiles há sempre
negras, mas que neste ano suas
modelos favoritas estavam fora
do Brasil. "Pior que não chamar
negros é colocar alguns só para
provar que não temos preconceitos", diz ele.
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