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Conselho da Osesp demite o maestro John Neschling
Assinada por FHC, presidente do conselho da orquestra, carta diz que regente tinha "conduta indesejável"
John Neschling assumiu comando da Osesp em
1996 e a transformou na
mais prestigiosa
na América Latina
MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA
O maestro John Neschling
foi demitido ontem da Osesp, a
Orquestra Sinfônica do Estado
de São Paulo. No ano passado,
depois de intensa pressão do
governador José Serra, que
queria tirá-lo do cargo, Neschling comunicou ao conselho
da Fundação Osesp que não renovaria seu contrato. Na ocasião, ficou combinado que o
maestro permaneceria à frente
da instituição até o fim de 2010,
como previa seu contrato.
A situação, no entanto, ficou
insustentável. Neschling, que
chegou a chamar Serra de "menino mimado" e "autoritário"
logo no começo do governo,
continuou a dar entrevistas espinafrando o governador e o secretário estadual da Cultura,
João Sayad, mesmo depois de
ter sua saída definida. A gota
d'água foram as críticas que ele
vinha fazendo publicamente à
decisão do conselho de formar
um comitê para a escolha de
seu sucessor, com assessoria
internacional.
Neschling -que está na Suíça- foi demitido em termos
duros. Numa carta enviada a
ele ontem, e assinada pelo ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso, que preside o conselho da Fundação Osesp, o
maestro foi informado de que o
conselho da instituição tinha
decidido, em votação "unânime", pela "ruptura imediata"
de seu contrato. Afirmando que
as manifestações públicas de
Neschling, por seus "termos" e
"gravidade", coroavam uma série de manifestações contrárias
à forma como se dará a sucessão na orquestra, a carta diz
ainda que elas deixavam "poucas dúvidas" quanto à possibilidade de uma convivência harmoniosa com o maestro.
Neschling afirmou em uma
entrevista ao jornal "O Estado
de S. Paulo", em dezembro, que
a condução de sua sucessão estava sendo feita de maneira "intempestiva e irresponsável".
"A manifestação pública de
Vossa Senhoria deixa poucas
dúvidas quanto à possibilidade
-como era nossa intenção-,
de uma convivência harmoniosa, no processo de sucessão,
evidenciando conduta indesejável e inconciliável com o desempenho das atribuições contratuais", escreveu FHC.
Além de incomodar o conselho, o clima entre os músicos
que Neschling deveria liderar
era de franca hostilidade ao
maestro. No começo de janeiro,
eles enviaram uma carta à Fundação Osesp para protestar
contra ele por causa de suas declarações públicas. O conselho
decidiu então antecipar a demissão do maestro, para que
ela ocorresse antes do início da
temporada de 2009.
Indesejável
A Folha apurou que o contrato de Neschling, que recebia
R$ 100 mil por mês, tem cláusulas que permitem que ele seja rompido caso não sejam
cumpridas. O conselho da fundação considerou que o comportamento do maestro configurava um desrespeito a essas
condições.
Neschling assumiu o comando da Osesp em 1996 -antes,
era diretor artístico das casas
de ópera de Saint Gallen (Suíça) e Bordeaux (França). Sob
seu comando, a orquestra se
transformou na mais prestigiosa entre as latino-americanas.
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