São Paulo, quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

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Conselho da Osesp demite o maestro John Neschling

Assinada por FHC, presidente do conselho da orquestra, carta diz que regente tinha "conduta indesejável"

John Neschling assumiu comando da Osesp em 1996 e a transformou na mais prestigiosa na América Latina


MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA

O maestro John Neschling foi demitido ontem da Osesp, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. No ano passado, depois de intensa pressão do governador José Serra, que queria tirá-lo do cargo, Neschling comunicou ao conselho da Fundação Osesp que não renovaria seu contrato. Na ocasião, ficou combinado que o maestro permaneceria à frente da instituição até o fim de 2010, como previa seu contrato.
A situação, no entanto, ficou insustentável. Neschling, que chegou a chamar Serra de "menino mimado" e "autoritário" logo no começo do governo, continuou a dar entrevistas espinafrando o governador e o secretário estadual da Cultura, João Sayad, mesmo depois de ter sua saída definida. A gota d'água foram as críticas que ele vinha fazendo publicamente à decisão do conselho de formar um comitê para a escolha de seu sucessor, com assessoria internacional.
Neschling -que está na Suíça- foi demitido em termos duros. Numa carta enviada a ele ontem, e assinada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que preside o conselho da Fundação Osesp, o maestro foi informado de que o conselho da instituição tinha decidido, em votação "unânime", pela "ruptura imediata" de seu contrato. Afirmando que as manifestações públicas de Neschling, por seus "termos" e "gravidade", coroavam uma série de manifestações contrárias à forma como se dará a sucessão na orquestra, a carta diz ainda que elas deixavam "poucas dúvidas" quanto à possibilidade de uma convivência harmoniosa com o maestro.
Neschling afirmou em uma entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", em dezembro, que a condução de sua sucessão estava sendo feita de maneira "intempestiva e irresponsável".
"A manifestação pública de Vossa Senhoria deixa poucas dúvidas quanto à possibilidade -como era nossa intenção-, de uma convivência harmoniosa, no processo de sucessão, evidenciando conduta indesejável e inconciliável com o desempenho das atribuições contratuais", escreveu FHC.
Além de incomodar o conselho, o clima entre os músicos que Neschling deveria liderar era de franca hostilidade ao maestro. No começo de janeiro, eles enviaram uma carta à Fundação Osesp para protestar contra ele por causa de suas declarações públicas. O conselho decidiu então antecipar a demissão do maestro, para que ela ocorresse antes do início da temporada de 2009.

Indesejável
A Folha apurou que o contrato de Neschling, que recebia R$ 100 mil por mês, tem cláusulas que permitem que ele seja rompido caso não sejam cumpridas. O conselho da fundação considerou que o comportamento do maestro configurava um desrespeito a essas condições.
Neschling assumiu o comando da Osesp em 1996 -antes, era diretor artístico das casas de ópera de Saint Gallen (Suíça) e Bordeaux (França). Sob seu comando, a orquestra se transformou na mais prestigiosa entre as latino-americanas.


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