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"Babe 2" ganha em ação, mas perde em poesia
da Equipe de Articulistas
Quem se encantou com a delicadeza de "Babe, o Porquinho Atrapalhado" (1995) talvez se decepcione um pouco com a continuação que estréia hoje, "Babe, o Porquinho Atrapalhado na Cidade".
Na passagem do campo para a cidade grande -para onde Babe vai
com sua dona, Esme Hoggett
(Magda Szubanski), na tentativa
de salvar a fazenda de ser confiscada por um banco-, tudo adquire
proporções superlativas: o número de humanos e de animais, o tamanho dos cenários, a confusão
das situações.
Há mais ação, mais estripulias,
mais reviravoltas e mais piadas
que no primeiro "Babe". Mas essa
mudança de escala implicou também uma mudança de eixo da fábula, que passa a girar em torno de
outros princípios.
Se, no primeiro "Babe", todo o
drama e toda a graça eram produzidos pelo jogo entre a pureza do
porquinho e as regras de um mundo rústico e relativamente simples,
nessa continuação o ambiente é
muito mais complexo, e o que prevalece como motor da ação é a
"teoria do caos" -título, aliás, de
uma das partes do filme.
Não por acaso, há diversas sequências em que a mais monumental calamidade é produzida
por um pequeno desajuste casual e
banal, na melhor tradição das comédias malucas americanas.
No primeiro "Babe", o porquinho era o único elemento destoante num mundo rural coerente e
imutável, regido por um tempo cíclico e pela certeza de que cada ser
cumpre sua função determinada.
Na cidade, o caos parece ser o
princípio regulador de tudo, e a
única regra é "cada um por si".
A fábula atemporal do primeiro
"Babe" cede lugar a uma visão crítica e amarga da sociedade contemporânea.
O diretor George Miller (produtor e roteirista do primeiro "Babe"
e versátil realizador que transitou
da distopia punk-futurista "Mad
Max" ao melodrama de doença "O
Óleo de Lorenzo") tentou abraçar
o mundo aqui.
Colocou em cena 799 animais,
entre cães, gatos, cavalos, ovelhas,
porcos, ratos e macacos, construiu
cenários espetaculares, atulhou a
tela de signos e eventos.
Procurou conciliar a ação frenética (que se supõe ser o que agrada
às crianças de hoje), uma visão
sombria da vida urbana (sua cidade lembra "Metrópolis", de Fritz
Lang, só que habitada por animais
"excluídos" e rancorosos) e a moral positiva da fábula original.
O resultado é um filme por vezes
divertido, por vezes deslumbrante,
por vezes feroz, mas quase nunca
gracioso como o primeiro "Babe".
É como se, na hora de planejar a
superprodução, tivessem esquecido de fora o principal: a poesia.
(JOSÉ GERALDO COUTO)
²
Filme: Babe, o Porquinho Atrapalhado na
Cidade (legendado e dublado)
Produção: Austrália, 1998
Direção: George Miller
Com: Magda Szubanski, James Cromwell,
Mickey Rooney, Mary Stein
Quando: estréia hoje, nos cines Morumbi 3,
Astor, Top Cine, Eldorado 6, Paulista 3, Paris
e circuito
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