São Paulo, sexta, 22 de janeiro de 1999

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"Babe 2" ganha em ação, mas perde em poesia

da Equipe de Articulistas

Quem se encantou com a delicadeza de "Babe, o Porquinho Atrapalhado" (1995) talvez se decepcione um pouco com a continuação que estréia hoje, "Babe, o Porquinho Atrapalhado na Cidade".
Na passagem do campo para a cidade grande -para onde Babe vai com sua dona, Esme Hoggett (Magda Szubanski), na tentativa de salvar a fazenda de ser confiscada por um banco-, tudo adquire proporções superlativas: o número de humanos e de animais, o tamanho dos cenários, a confusão das situações.
Há mais ação, mais estripulias, mais reviravoltas e mais piadas que no primeiro "Babe". Mas essa mudança de escala implicou também uma mudança de eixo da fábula, que passa a girar em torno de outros princípios.
Se, no primeiro "Babe", todo o drama e toda a graça eram produzidos pelo jogo entre a pureza do porquinho e as regras de um mundo rústico e relativamente simples, nessa continuação o ambiente é muito mais complexo, e o que prevalece como motor da ação é a "teoria do caos" -título, aliás, de uma das partes do filme.
Não por acaso, há diversas sequências em que a mais monumental calamidade é produzida por um pequeno desajuste casual e banal, na melhor tradição das comédias malucas americanas.
No primeiro "Babe", o porquinho era o único elemento destoante num mundo rural coerente e imutável, regido por um tempo cíclico e pela certeza de que cada ser cumpre sua função determinada.
Na cidade, o caos parece ser o princípio regulador de tudo, e a única regra é "cada um por si".
A fábula atemporal do primeiro "Babe" cede lugar a uma visão crítica e amarga da sociedade contemporânea.
O diretor George Miller (produtor e roteirista do primeiro "Babe" e versátil realizador que transitou da distopia punk-futurista "Mad Max" ao melodrama de doença "O Óleo de Lorenzo") tentou abraçar o mundo aqui.
Colocou em cena 799 animais, entre cães, gatos, cavalos, ovelhas, porcos, ratos e macacos, construiu cenários espetaculares, atulhou a tela de signos e eventos.
Procurou conciliar a ação frenética (que se supõe ser o que agrada às crianças de hoje), uma visão sombria da vida urbana (sua cidade lembra "Metrópolis", de Fritz Lang, só que habitada por animais "excluídos" e rancorosos) e a moral positiva da fábula original.
O resultado é um filme por vezes divertido, por vezes deslumbrante, por vezes feroz, mas quase nunca gracioso como o primeiro "Babe". É como se, na hora de planejar a superprodução, tivessem esquecido de fora o principal: a poesia.
(JOSÉ GERALDO COUTO)
²
Filme: Babe, o Porquinho Atrapalhado na Cidade (legendado e dublado) Produção: Austrália, 1998 Direção: George Miller Com: Magda Szubanski, James Cromwell, Mickey Rooney, Mary Stein Quando: estréia hoje, nos cines Morumbi 3, Astor, Top Cine, Eldorado 6, Paulista 3, Paris e circuito



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