São Paulo, sexta-feira, 22 de fevereiro de 2002

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CINEMA/ESTRÉIA

Soderbergh desiste de voltar ao circuito indie e dirige astros de Hollywood em "Onze Homens e Um Segredo"

Ladrões de coração

MILLY LACOMBE
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES

Após "Traffic" e "Erin Brockovich", tudo o que o premiado diretor Steven Soderbergh queria era se dedicar a um filme pequeno e independente. Mas George Clooney, sócio do cineasta em uma produtora, tinha outros planos. Planos que envolviam US$ 90 milhões, três cassinos, um grande estúdio, dez atores da lista "A" de Hollywood e Julia Roberts.
"Quando li o roteiro de "Onze Homens e Um Segredo" liguei imediatamente para Steven para dizer que deveríamos produzi-lo", disse Clooney à Folha, em Los Angeles. O diretor não se animou. Não apenas porque Clooney tentava atrapalhar seus planos de voltar ao circuito indie, que o projetou com "sexo, mentiras e videoteipe", em 1989, mas principalmente porque não era grande fã do original, feito em 1960 e estrelado por Frank Sinatra, Sammy Davis Jr. e Dean Martin.
Sobre as diferenças entre ambos, Clooney é capaz de falar por dias, mas resume: "Enquanto o original não sabia o que fazer com aquele elenco estrelar, esse é um roteiro mais bem amarrado, mais romântico e não fala de vingança, mas de um apaixonado que tenta recuperar o amor de sua vida".
O bom roteiro foi forte o suficiente para convencer Julia Roberts e outros dez astros a atuar apenas por participação em bilheteria. Até porque, se metade do elenco cobrasse cachê, seria um filme de US$ 200 milhões.
À trama. Clooney é Danny Ocean, ex-presidiário que resolve elaborar um sofisticado plano de roubo aos caixas subterrâneos dos três maiores hotéis de Las Vegas na tentativa de embolsar US$ 150 milhões em uma noite. Para isso, reúne dez dos mais talentosos gatunos do país (Brad Pitt, Matt Damon, Don Cheadle, entre outros). Mas os motivos do ladrão charmoso não são financeiros. Sua ex-mulher (Roberts, como Tess Ocean) é agora a mulher do proprietário dos cassinos (Andy Garcia) e seu objeto de desejo.
"Não tinha idéia de como faria para filmar as cenas. No meio da produção, pensei se não havia feito uma enorme besteira topando dirigir aquilo. Estava jogando minha reputação no lixo", afirma o vencedor do Oscar de melhor diretor por "Traffic".
Soderbergh não dá instruções a atores e faz questão de filmar ele mesmo a maior parte das cenas. "O diretor que fala, pede, sugere presta um desserviço à obra. O ator sabe o que tem que ser feito. Falar demais -e isso se aplica a tudo na vida- só atrapalha", diz.
É por isso que Roberts não esconde ter em Soderbergh seu diretor predileto. O que, entretanto, não foi suficiente para fazê-la pular para agarrar o papel de única personagem feminina do filme. "Julia disse que queria trabalhar novamente comigo, mas não em "Ocean's", pois se tratava do clube do bolinha", disse o diretor.
Mas a atriz, que foi dirigida para o seu primeiro Oscar por Soderbergh em "Erin Brockovich", acabou entrando com tudo no ambiente cheio de testosterona.



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