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Mestre do Dark
Autor de "Sandman", Gaiman volta ao mundo das HQs com o romance "Stardust", que acaba de chegar ao Brasil
DIEGO ASSIS
DA REDAÇÃO
Se hoje falar em "quadrinhos de
adulto" não soa mais paradoxal,
isso se deve ao ex-jornalista inglês
Neil Gaiman. Roteirista responsável pela consagração da revista
"Sandman", da DC Comics, como
um dos títulos mais lidos e mais
premiados da história das HQs,
Gaiman aliou o universo do pop
rock dos anos 80 ao mundo de fadas, elfos e seres fantásticos da literatura inglesa do século 20.
Com o desenhista Charles Vess
-cuja parceria no 19º número de
"Sandman" rendeu-lhe um
World Fantasy Award-, Gaiman
volta às suas fantasias em "Stardust", romance com 175 ilustrações que sai agora no Brasil.
Entre uma xícara de chá e outra,
de sua residência em Minneapolis
(EUA), onde vive com a família e
dez gatos, Neil Gaiman, 41, deu
esta entrevista à Folha.
Folha - "Stardust" lida com o universo de seres fantásticos de outros trabalhos seus como "Sandman" ou mesmo "O Senhor dos
Anéis", de J.R.R. Tolkien.
Neil Gaiman - Trabalho um universo anterior à tradição de Tolkien. No início do século passado,
na Inglaterra, havia um tipo de
ficção que, embora fosse voltada
para os adultos, usava elementos
de encanto, perigo e beleza.
Folha - Como você avalia a parceria com Vess?
Gaiman - Ele é um dos grandes
ilustradores da tradição das histórias de fantasia. Escrevi "Stardust" pensando no que ele poderia desenhar a partir daquilo.
Sempre que terminava um capítulo, eu o lia para o Charles.
Folha - Sua inclinação ao "mundo
das fadas" vem da infância?
Gaiman - No começo dos anos
70, uma editora americana passou a publicar uma série de clássicos como "The Faerie Queene".
Tinha 12 anos e carregava os livros comigo. Parte da diversão de
escrever "Stardust" foi me reaproximar disso, usando um pouquinho mais de sexo e violência.
Folha - Autores como você e Terry
Pratchet são considerados best-sellers da literatura fantástica contemporânea. Como você lida com
isso, tendo surgido do underground dos quadrinhos?
Gaiman - Não penso muito sobre isso. Mas tenho muito orgulho do Terry, que conseguiu entrar para o mainstream das livrarias e nunca negou o fato de ser
um escritor de fantasia. A maioria
dos escritores do gênero, como
J.K.K. Rowling, de "Harry Potter",
esconde isso quando começa a fazer sucesso. Mas adoro o fato de
todas essas crianças estarem lendo "Harry Potter". Em cinco
anos, suas cabeças serão minhas.
Folha - Depois de um bom tempo
dedicando-se a escrever contos, romances, roteiros de TV e de rádio,
você está voltando às HQs a convite
da Marvel. O que o trouxe de volta?
Gaiman - Nunca brinquei no
parquinho que Stan Lee e Jack
Kirby [criadores de Homem-Aranha, X-Men, entre outros" construíram quando eu era pequeno.
Será uma série de seis episódios
chamada "1602", mas não quero
dizer nada enquanto eu ainda estou escrevendo. Com sorte, você
vai ver esses clássicos da Marvel
como se eles estivessem sendo escritos pela primeira vez.
Folha - Como você vê a reformulação dos personagens da Marvel, como os da linha Marvel Knights, escrita por independentes como
Grant Morrison e Garth Ennis?
Gaiman - Contratando gente como o Grant, a Marvel está voltando a perceber que os quadrinhos
são um meio de contar histórias.
Folha - Como você conheceu Alan
Moore (roteirista de "V de Vingança", "Watchmen" e colaborador de
Gaiman em alguns títulos da DC)?
Gaiman - Estava como jornalista
em uma convenção e pedi a ele
que me mostrasse como escrever
um roteiro de quadrinhos, e ele
fez o que eu pedi. Logo depois ele
leu os primeiros scripts que eu escrevi [para a revista "AD 2000"".
Folha - O quanto de Morpheus,
protagonista da série "Sandman",
foi inspirado em você?
Gaiman - Sempre usei preto, e é
ele quem cria as regras da história,
do mundo dos sonhos. E eu também: é assim que ganho a vida.
STARDUST - romance de Neil Gaiman e
Charles Vess. Lançamento: Conrad
Editora. Quanto: R$ 55 (208 págs.).
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