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Crítica/"Persépolis"
Indicada ao Oscar, animação mostra comovente e fascinante viagem ao Irã
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Um pouco como "Tropa
de Elite", "Persépolis"
na França gerou debates acalorados em torno de
questões políticas e sociológicas, deixando aspectos técnicos
e estéticos do filme em segundo
plano. A polêmica começou durante o Festival de Cannes, em
maio passado, onde "Persépolis" foi exibido em competição e
terminou levando o Prêmio do
Júri. No dia de sua exibição oficial, o governo iraniano divulgou uma nota de repúdio condenando a forma como o país é
representado na obra de Marjane Satrapi.
Em meio ao interesse crescente pelas animações, "Persépolis" se destaca por ser a adaptação mais fiel possível de uma
história em quadrinhos -ou
romance gráfico, para usar o
termo em voga. Com Vincent
Paronnaud, a própria autora
dos quatro volumes originais se
responsabilizou pela transposição para o cinema, reproduzindo seu estilo muito pessoal, de
traços simples e uso quase exclusivo do preto-e-branco. Antes de tudo, portanto, "Persépolis" é uma experiência fascinante no campo de animação (o
filme recebeu uma indicação ao
Oscar na categoria), com um
resultado cômico e comovente,
sempre original.
Assim como "Maus", de Art
Spiegelman, primeiro romance
gráfico reconhecido com um
Prêmio Pulitzer, "Persépolis" é
um relato autobiográfico radicalmente pessoal -ainda que
de impacto bem inferior à obra-prima de Spiegelman, é bom
deixar claro. Satrapi relata de
maneira direta e franca sua infância no Irã, no fim dos anos
70, em meio à turbulência da
revolução islâmica. É um depoimento que revela os sentimentos de uma menina que já
experimentou certo grau de liberdade e, de repente, se vê, por
exemplo, obrigada a usar um
véu para esconder os cabelos
quando vai para a escola.
Satrapi entrelaça muito bem
a história de seu país e sua vida
pessoal, sempre pelo caminho
de um ponto de vista singular.
É raro ver no cinema uma representação tão honesta das vicissitudes da adolescência, sublinhadas, aqui, por uma transformação histórica que torna
tudo mais difícil. A autora foi
acusada de desprezar o Irã e bajular a França, país onde mora
até hoje -uma reação exagerada que procura diminuir a
maior qualidade de "Persépolis", que é sua recusa a cair na
esparrela de defender formas
de opressão em nome de "diferenças culturais". Satrapi não
se omite e paga um preço por
isso. "Persépolis" é, sim, crítico
ao Irã, mas, ao contrário do que
pregam seus detratores, defende a diferença.
PERSÉPOLIS
Produção: França, EUA, 2007
Direção: Vincent Paronnaud e Marjane Satrapi
Com (vozes): Chiara Mastroianni, Catherine Deneuve e Danielle Darrieux
Onde: estréia hoje no HSBC Belas Artes, Villa-Lobos e circuito
Avaliação: bom
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