São Paulo, sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

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CONEXÃO POP

Quase memória

Uma parte dos meus CDs está em casa; outra, na de minha mãe; alguns foram emprestados; e perdi vários

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

NESTA SEMANA, chegou a notícia de que uma cópia do "Álbum Branco" dos Beatles vai a leilão na Inglaterra em 4 de março.
Trata-se de um item precioso para colecionadores, já que esse vinil vem com número de série "sete". (As cópias com número de um a quatro ficaram com os integrantes da banda; as de cinco a dez foram entregues para parentes e amigos.) A história me chamou a atenção não porque eu seja colecionador, pelo contrário: por ser incapaz de colecionar qualquer coisa, fico fascinado ao me deparar com esses obstinados.
Como o norte-americano Paul Mawhinney, que colocou à venda, no eBay, coleção de 3 milhões de discos de vinil. Três milhões. Não tenho capacidade para imaginar o que isso significa, quanto tempo esse cara levou para juntar tantos LPs, onde ele guarda, como faz para limpá-los...
Esses episódios me levaram a "Tudo se Ilumina", de Jonathan Safran Foer. Sem querer estragar muito do livro, mas ali temos um personagem que coleciona os mais diversos objetos como uma necessidade de manter acesa a memória de fatos e pessoas ligadas à sua vida.
Por esse ponto de vista (mas não apenas), sou um desastre. Não sei se por desapego ou por desleixo mesmo, não consigo colecionar nada, muito menos discos. E minha memória é tão confiável quanto as promessas de construção de um estádio para o Corinthians.
Não faço a menor idéia de quantos CDs eu tenha. Não sei nem onde eles estão. Uma parte, em casa; outra, na de minha mãe; tenho a impressão de que alguns foram emprestados; e perdi vários, muitos.
Quando me perguntam qual o primeiro disco que comprei, fico com cara de bobo. Não lembro. Acho que foi uma coletânea do Supertramp (a "The Autobiography", cuja propaganda era martelada nas FMs dos anos 1980), mas é provável que eu esteja enganado -pode ser também uma compilação do selo Islands que tinha música do U2. Me recordo apenas que comprei esses álbuns em vinil. Onde eles estão? Tenho certeza de que em algum lugar.
É um descomprometimento que muitos amigos apaixonados por música consideram herético.
Hoje, com iPod, com a facilidade de em dois ou três cliques ouvir música nova em blogs de MP3, com MySpace etc., desisti, meio resignado, de iniciar uma coleção minimamente decente de discos. Mas não me arrependo. É uma relação (a minha) emocional com a música pop, mais instintiva do que racional. O que faz meus amigos colecionadores e de memória afiada me xingarem por eu achar "Young Love", música nova dos Mystery Jets, tão sensacional e indispensável. Veja no YouTube se é exagero.

 

O primeiro show de Nasi após a saída do Ira! será em 15/3, no clube Clash, em SP. A briga do vocalista com os ex-integrantes do grupo parece ter sido (parcialmente) resolvida. No show, Nasi será acompanhado pelo ex-baixista do Ira!, Gaspa.

thiago@folhasp.com.br

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