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Oscar da recessão
Com menos patrocinadores e mais discrição, Los Angeles promove hoje a festa do cinema em meio à crise econômica
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES
Em 1933, no auge da Grande
Depressão norte-americana, os
membros da Academia de
Ciências e Artes Cinematográficas dos EUA se reuniram para
um jantar frugal no Ambassador Hotel de Los Angeles, hoje
demolido, mas que entraria para a história 35 anos depois ao
ser palco do assassinato do senador Bobby Kennedy.
Era a sexta cerimônia do Oscar. Com apresentação do ator-caubói Will Rogers, a noite premiou entre outros o diretor
Frank Lloyd, seu filme "Cavalgada" e os atores Charles
Laughton ("Os Amores de Henrique 8º") e Katharine Hepburn ("Manhã de Glória").
O mundo ia mal, mas os negócios em Hollywood iam muito bem. A cada semana, pagando 15 centavos de dólar pelo ingresso, ou US$ 2,50 em dinheiro de hoje, entre 60 e 70 milhões de pessoas lotavam os cinemas no país inteiro. Era o
equivalente à nada desprezível
metade da população dos EUA.
Hoje, Los Angeles realiza o
primeiro Oscar da pior recessão a atingir o país e o mundo
desde aquela década. Diferentemente de nos anos 30, no entanto, o país vai mal -e Hollywood também. A começar pela
exibição da cerimônia na TV.
Espera-se que a performance
de 2008, a menos vista da história recente, se repita.
Cerca de 32 milhões de telespectadores viram a transmissão nos EUA então, ante 40 milhões em 2007 e números progressivamente maiores nos
anos anteriores. A baixa expectativa para hoje e a crise levaram a ABC, que detém os direitos dessa noite no país, a baixar
18% o preço do anúncio de 30
segundos, para US$ 1,4 milhão.
Ainda assim, a GM cancelou
sua campanha pela primeira
vez desde 1992 -a montadora é
o cerne da crise por que passa o
setor nos EUA, atualmente negociando um segundo pacote
de ajuda federal-, assim como
a gigante de cosméticos L'Oreal, que anunciou sua saída
uma semana antes do evento.
Com isso, a emissora tomou a
decisão inédita de liberar a publicidade de estúdios de cinema na transmissão, uma proibição não-escrita que ajudava a
manter a credibilidade do prêmio. De qualquer maneira, só
serão permitidos filmes que
ainda não estrearam, e não
concorrentes da noite.
Sem ostentação
Fora do Kodak Theatre, palco do Oscar, a situação não é
melhor. A tradicional festa
Night Before, prevista para
acontecer ontem no Beverly
Hills Hotel, cortou as chamadas "goodie bags", sacolas de
patrocinadores distribuídas
aos convidados com presentes
caros como celulares de última
geração ou noites em hotel cinco estrelas.
"Foram os patrocinadores
que sugeriram que achássemos
um jeito de fazer o mesmo tipo
de evento sem tanta ostentação", disse Ken Scherer, da organização da festa. O tom se repete por toda a cidade, que viu
diminuir o número de comemorações pré e pós-Oscar.
A tensão chega mesmo ao tapete vermelho, onde a ordem é
paradoxal: ostentar, sim, mas
com discrição. "Antes, era chique falar: "Estou usando US$ 16
milhões de jóias'", diz o assessor Howard Bragman, especializad o em aconselhamento para celebridades em crise. "Agora, isso é de mau gosto."
Nas bilheterias, o problema é
notado no enfraquecimento do
chamado "efeito Oscar", o salto
que os filmes concorrentes
normalmente recebem após o
anúncio de que foram indicados. Em vez de ver o número de
salas aumentar depois da indicação, longas como "Milk -A
Voz da Igualdade", "O Leitor" e
"Frost/Nixon", três dos cinco
da categoria principal, passaram para menos telas.
Mas um indicativo do sinal
dos tempos talvez tenha sido
uma reunião recente feita pela
Motion Picture Association of
America, a Fiesp do setor cinematográfico, em Washington.
Nela, altos executivos de estúdios esperavam com ansiedade
por um anúncio, que seria feito
nas horas seguintes.
Ele veio, e o clima foi de decepção. Não se tratava de nenhum das dezenas de prêmios
que antecedem o Oscar e vão
esquentando a competição. A
emenda de US$ 246 milhões
em cortes de impostos para as
produções de cinema havia sido derrubada do pacote de estímulo econômico do presidente
Barack Obama. Hoje, isso também é Hollywood.
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