São Paulo, Segunda-feira, 22 de Fevereiro de 1999
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VERNISSAGE
Obra de Takashi Murakami destoa dos trabalhos reunidos na coletiva Japão-Brasil que abre hoje no Masp
Artista japonês é "ovelha negra" de mostra

FERNANDO OLIVA
da Redação

Há pelo menos uma boa razão para visitar a exposição coletiva de 7 japoneses e 13 nipo-brasileiros que o Museu de Arte de São Paulo abre hoje: a obra do artista plástico japonês Takashi Murakami.
Ovelha negra meio perdida na "Mostra Itinerante Japão-Brasil", o trabalho de Murakami, 37, é repleto de irônicas referências pop, baseadas em personagens extraídos do universo mangá (os quadrinhos japoneses), desenhos animados e videogames, além de outras fontes de "lixo cultural", como ele mesmo define.
Seu trabalho deixa claro que ele não joga no mesmo time da maioria dos artistas reunidos para a exposição do Masp, tentativa de estabelecer um diálogo entre nipo-brasileiros (Tomie Ohtake, Manabu Mabe e Megumi Yuasa, entre outros) e japoneses (Tokihiro Sato, Mirian Fukuda, Yayoi Kusama).
Murakami escreveu, no próprio catálogo da coletiva, que não lhe interessa a conversa com certo tipo de arte produzida em seu país: "No Japão, as pessoas com baixa habilidade no tratamento de informações, ou aquelas mais desligadas, têm sido justamente as que se dedicam à arte. As suas produções não passam de mera cópia do gosto do "exterior". Em função disso, não têm utilidade".
Para Murakami, a atual arte japonesa se confunde com a subcultura do país. E, segundo ele, é assim que deve ser. "Na perspectiva ocidental, existe a cultura principal e existe a subcultura, que age como uma antítese. No Japão, como não existe a cultura principal, não há como definir suas fronteiras. E a vulgarmente conhecida subcultura tem sido para nós algo essencial." A frase define campos antagônicos, e Murakami deixa claro de que lado está: "O local em que o Japão pode se identificar está na subcultura".
Mesmo que suas criações mais instigantes não estejam entre as selecionadas pela curadoria da mostra (caso do "Caubói Solitário", foto ao lado), seu personagem-manifesto estará lá -o Mister Dob, espécie de Mickey Mouse redesenhado à maneira dos mangás. "O Dob foi criado para ser um ícone crítico da base da arte japonesa", afirma.

Flavio Shiró
A itinerância da exposição começou em setembro do ano passado na cidade de Ipatinga (218 km a leste de Belo Horizonte), inaugurando o centro cultural da siderúrgica Usiminas (um investimento de R$ 7 milhões) e comemorando os 90 anos da imigração japonesa.
Já passou pela capital mineira e por Brasília. Em abril, faz sua última parada no Museu de Arte Moderna do Rio.
Hoje, dia do vernissage no Masp, o artista plástico japonês Flavio Shiró, 71, estará presente e será homenageado por sua obra "Umbigo do Mundo". Shiró, que imigrou para o Pará nos anos 30, divide residência entre a França e o Brasil.


Exposição: Mostra Itinerante Japão-Brasil Artistas: Flavio Shiró, Kimiyo Mishima, Chika Ito, Yutaka Toyota, Tokihiro Sato, Miran Fukuda, Yayoi Kusama, Takashi Murakami, Ken'ichi Hirota, Megumi Yuasa, Tomie Ohtake, Midori Hatanaka, Kazuo Wakabayashi, Manabu Mabe, Yugo Mabe, Tikashi e Takashi Fukushima, Taro Kaneko, Oscar Satio Oiwa e Daisuke Nakayama Curadoria: Daniel Gomes Vernissage: hoje, a partir das 19h Onde: Masp (av. Paulista, 1.578, Cerqueira César, tel. 011/251-5644) Quando: ter. a dom., 11h às 18h. Até 4/4 Quanto: R$ 8 e R$ 4 (estudantes) Patrocínio: Usiminas




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