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A CENOGRAFIA
Cardia evoca pintura de Hopper
especial para a Folha
Com seu cenário de seis toneladas, "Casa" estreou em Porto
Alegre, em agosto passado. Em
seguida, ficou em cartaz no Rio
de Janeiro durante dois meses.
Nas duas temporadas, o espetáculo foi visto por mais de 30 mil
pessoas, número significativo
até para companhias acostumadas ao sucesso internacional.
Se, para o público, Deborah
Colker facilita o caminho para o
deleite estético, o mesmo ela
não proporciona a si própria.
"Foi uma surra harmonizar
dança e cenografia de tal proporção", diz.
Campeã de vôlei antes de se
tornar bailarina, Colker traz do
esporte o gosto pelo desafio físico, a comunhão com o público,
o desejo de ver no ser humano
um vencedor.
Musicalmente, Colker também tira partido de experiências
pregressas. Filha de maestro e
formada em piano, ela vem sabendo refinar sua relação com
os compositores que requisita.
Berna Ceppas, Alexandre
Kassin e Sérgio Meckler são os
músicos que elegeu desde os
primeiros espetáculos e que,
agora, integrados à equipe, criaram para "Casa" uma trilha que
tem como obra referencial o
"Quarteto para Cordas nº 4, em
Mi Menor", de Mendelssohn.
Além de Yamê Reis como figurinista e de Jorginho de Carvalho como iluminador, Colker
ainda conta com a parceria de
Gringo Cardia, artista plástico
que vem concretizando - brilhantemente- os "delírios" cênicos da coreógrafa.
Idéia antiga, a moradia como
tema se fortaleceu na mente de
Colker quando ela visitou o museu da Bauhaus em 1988, na cidade alemã de Weimar. Ao se
deter nas concepções arquitetônicas daquela escola artística,
que defendia a adaptação da
tecnologia à arte, ela se convenceu a explorar uma temática comum a qualquer cidadão. "Até
quem mora nas ruas delimita
espaços para criar sua casa", observa.
Rejeitando a função decorativa do cenário, Colker procurou
intensificar a interação entre
bailarinos e ambiente cênico.
"Em "Casa", além de amadurecer minha capacidade de direção, constatei as linhas mestras
de meus espetáculos. Temas
únicos, baseados em histórias
comuns do cotidiano, além de
uma coreografia bem tecida, capaz de sustentar a concepção e o
roteiro, são as características
que se tornam mais evidentes
em meu trabalho."
Para Gringo Cardia, a casa como tema estimulou evocações
dos ambientes urbanos pintados pelo norte-americano Edward Hopper. Sem adereços cênicos, o cenário de Cardia compõe uma arquitetura de vãos livres, em que o sentido se constrói por meio da coreografia.
Gestos e acontecimentos banais, como tomar banho, dormir, se divertir, brigar, namorar
ou cuidar do cachorro compõem o roteiro, que exige dos
bailarinos um constante deslocamento entre os compartimentos superiores e inferiores
do cenário de três andares.
Mais do que se preocupar em
criar histórias, Colker se ocupa
das dinâmicas espaciais e dos
resultados que pode obter
quando desafia seus limites.
"Embora seja predominante
em meus espetáculos, a dança
não é a desencadeadora de
meus processos criativos. Minhas questões vêm muito mais
da arquitetura, das artes plásticas, dos acontecimentos banais
da vida."
(AFP)
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