São Paulo, quarta-feira, 22 de março de 2000


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A CENOGRAFIA
Cardia evoca pintura de Hopper

especial para a Folha

Com seu cenário de seis toneladas, "Casa" estreou em Porto Alegre, em agosto passado. Em seguida, ficou em cartaz no Rio de Janeiro durante dois meses. Nas duas temporadas, o espetáculo foi visto por mais de 30 mil pessoas, número significativo até para companhias acostumadas ao sucesso internacional.
Se, para o público, Deborah Colker facilita o caminho para o deleite estético, o mesmo ela não proporciona a si própria. "Foi uma surra harmonizar dança e cenografia de tal proporção", diz.
Campeã de vôlei antes de se tornar bailarina, Colker traz do esporte o gosto pelo desafio físico, a comunhão com o público, o desejo de ver no ser humano um vencedor.
Musicalmente, Colker também tira partido de experiências pregressas. Filha de maestro e formada em piano, ela vem sabendo refinar sua relação com os compositores que requisita.
Berna Ceppas, Alexandre Kassin e Sérgio Meckler são os músicos que elegeu desde os primeiros espetáculos e que, agora, integrados à equipe, criaram para "Casa" uma trilha que tem como obra referencial o "Quarteto para Cordas nº 4, em Mi Menor", de Mendelssohn.
Além de Yamê Reis como figurinista e de Jorginho de Carvalho como iluminador, Colker ainda conta com a parceria de Gringo Cardia, artista plástico que vem concretizando - brilhantemente- os "delírios" cênicos da coreógrafa.
Idéia antiga, a moradia como tema se fortaleceu na mente de Colker quando ela visitou o museu da Bauhaus em 1988, na cidade alemã de Weimar. Ao se deter nas concepções arquitetônicas daquela escola artística, que defendia a adaptação da tecnologia à arte, ela se convenceu a explorar uma temática comum a qualquer cidadão. "Até quem mora nas ruas delimita espaços para criar sua casa", observa.
Rejeitando a função decorativa do cenário, Colker procurou intensificar a interação entre bailarinos e ambiente cênico. "Em "Casa", além de amadurecer minha capacidade de direção, constatei as linhas mestras de meus espetáculos. Temas únicos, baseados em histórias comuns do cotidiano, além de uma coreografia bem tecida, capaz de sustentar a concepção e o roteiro, são as características que se tornam mais evidentes em meu trabalho."
Para Gringo Cardia, a casa como tema estimulou evocações dos ambientes urbanos pintados pelo norte-americano Edward Hopper. Sem adereços cênicos, o cenário de Cardia compõe uma arquitetura de vãos livres, em que o sentido se constrói por meio da coreografia.
Gestos e acontecimentos banais, como tomar banho, dormir, se divertir, brigar, namorar ou cuidar do cachorro compõem o roteiro, que exige dos bailarinos um constante deslocamento entre os compartimentos superiores e inferiores do cenário de três andares.
Mais do que se preocupar em criar histórias, Colker se ocupa das dinâmicas espaciais e dos resultados que pode obter quando desafia seus limites.
"Embora seja predominante em meus espetáculos, a dança não é a desencadeadora de meus processos criativos. Minhas questões vêm muito mais da arquitetura, das artes plásticas, dos acontecimentos banais da vida." (AFP)


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