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CRÍTICA
Thomas leva trama para fora do palco
NELSON DE SÁ
enviado especial a Curitiba
Alguém (o próprio diretor) poderia tentar discorrer sobre "Coro
e Camarim" como o desnudamento da cena ou coisa assim, como uma adaptação pós-moderna
de Pirandello ou uma versão para
teatro do filme "The Truman
Show - O Show da Vida".
Mal começa a peça, com alguns
quadros que reportam vagamente a uma festa e a um camarim, e
tudo pára.
Surge uma interminável e por
vezes divertidíssima discussão de
bastidor, em que os atores usam
os próprios nomes, dizem coisas
que diriam ou talvez tenham dito
nos ensaios. Falam do diretor (demais), de si mesmos, ameaçam
brigar.
Como em alguma terapia apresentada como comédia, expõem
pateticamente seus terrores, paixões etc. Está ali, de fato, o que poderia ser (ainda pode, vai saber)
um bom espetáculo. Mas "Coro e
Camarim" não é o desnudamento
da cena.
Mais parece uma peça que ganhou forma às pressas, para mostrar qualquer coisa no festival, já
que diretor e companhia estavam
sob contrato.
Por sinal, o festival e Curitiba
("um bom lugar para morrer")
são alvos preferenciais de "Coro e
Camarim", formando uma trama
à parte, que precede e não pára
com o fim da peça.
Sobre a cena, registre-se ainda
que a relação com Asdrubal e sobretudo Living Theater, grupos
citados pelo diretor ao abrir a
apresentação, força a mão.
Disforme, "Coro e Camarim"
não se aprofunda no tema da improvisação, seus atores se perdem
do texto, ao qual foram introduzidos dias antes, e as menções seguidas ao êxito de "Ventriloquist"
soam como desculpas.
Mas é a trama que envolve Thomas com o festival que mais se
destaca, embora superficial. Começou dias antes, com críticas vagas do diretor ao evento, nos jornais locais, e chegou ao ápice na
apresentação, com a acusação de
que o evento só teria pago parte
do acertado -e a provocação de
fingir nem lembrar o nome do diretor-geral Victor Aronis.
No lobby do teatro, depois, os
três produtores do festival (Aronis, Cássio Chamecki e Leandro
Knopfholz) se dividiam.
O primeiro, de início irritado,
disse que todas as companhias recebem cachê depois dos espetáculos e que a de Thomas só recebeu
metade antes "e no dia certo" porque foi o pedido feito por sua produtora. Chamecki dizia, rindo,
que não era caso de preocupação,
pois "ninguém acredita mesmo"
no que fala o diretor. Mas Knopfholz, revoltado, lembrava a presença de patrocinadores e defendia processar o diretor, o que não
se confirmou.
No camarim, Thomas dizia e repetia: "É tudo verdade". Questionado sobre o eventual processo,
exclamou: "Ótimo".
Foi interrompido pelo abraço
de uma coreógrafa croata, dizendo "I didn't understand a shit", ou
não entendi nada.
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