São Paulo, quarta-feira, 22 de março de 2000


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CRÍTICA
Thomas leva trama para fora do palco

NELSON DE SÁ
enviado especial a Curitiba

Alguém (o próprio diretor) poderia tentar discorrer sobre "Coro e Camarim" como o desnudamento da cena ou coisa assim, como uma adaptação pós-moderna de Pirandello ou uma versão para teatro do filme "The Truman Show - O Show da Vida".
Mal começa a peça, com alguns quadros que reportam vagamente a uma festa e a um camarim, e tudo pára.
Surge uma interminável e por vezes divertidíssima discussão de bastidor, em que os atores usam os próprios nomes, dizem coisas que diriam ou talvez tenham dito nos ensaios. Falam do diretor (demais), de si mesmos, ameaçam brigar.
Como em alguma terapia apresentada como comédia, expõem pateticamente seus terrores, paixões etc. Está ali, de fato, o que poderia ser (ainda pode, vai saber) um bom espetáculo. Mas "Coro e Camarim" não é o desnudamento da cena.
Mais parece uma peça que ganhou forma às pressas, para mostrar qualquer coisa no festival, já que diretor e companhia estavam sob contrato.
Por sinal, o festival e Curitiba ("um bom lugar para morrer") são alvos preferenciais de "Coro e Camarim", formando uma trama à parte, que precede e não pára com o fim da peça.
Sobre a cena, registre-se ainda que a relação com Asdrubal e sobretudo Living Theater, grupos citados pelo diretor ao abrir a apresentação, força a mão.
Disforme, "Coro e Camarim" não se aprofunda no tema da improvisação, seus atores se perdem do texto, ao qual foram introduzidos dias antes, e as menções seguidas ao êxito de "Ventriloquist" soam como desculpas.
Mas é a trama que envolve Thomas com o festival que mais se destaca, embora superficial. Começou dias antes, com críticas vagas do diretor ao evento, nos jornais locais, e chegou ao ápice na apresentação, com a acusação de que o evento só teria pago parte do acertado -e a provocação de fingir nem lembrar o nome do diretor-geral Victor Aronis.
No lobby do teatro, depois, os três produtores do festival (Aronis, Cássio Chamecki e Leandro Knopfholz) se dividiam.
O primeiro, de início irritado, disse que todas as companhias recebem cachê depois dos espetáculos e que a de Thomas só recebeu metade antes "e no dia certo" porque foi o pedido feito por sua produtora. Chamecki dizia, rindo, que não era caso de preocupação, pois "ninguém acredita mesmo" no que fala o diretor. Mas Knopfholz, revoltado, lembrava a presença de patrocinadores e defendia processar o diretor, o que não se confirmou.
No camarim, Thomas dizia e repetia: "É tudo verdade". Questionado sobre o eventual processo, exclamou: "Ótimo".
Foi interrompido pelo abraço de uma coreógrafa croata, dizendo "I didn't understand a shit", ou não entendi nada.


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