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ARTES PLÁSTICAS
Artista cujo trabalho pôde ser visto no Panorama 99 faz agora em São Paulo exposição individual com trabalhos inéditos
Climachauska potencializa obra ao zerá-la
free-lance para a Folha
Operações matemáticas desvanecem nas paredes da galeria. São
subtrações de resultado zero feitas na já quase inconfundível caligrafia de Paulo Climachauska, esse artista que mais parece filósofo,
em suas elucubrações estéticas.
As duas instalações que ele
mostra a partir de hoje na galeria
Baró Senna, "Zero" e "Sistina",
comentam a construção dos sistemas do mundo. Para o artista, a
ordem dessa construção é a de
subtração.
"Todo sistema que se articula é
redutor. A história da arte, por
exemplo, é eurocêntrica e etnocêntrica. A própria história, para
construir-se no sistema linear, faz
algumas somas e incontáveis operações de subtração", afirma.
É comum pensar que os sistemas -econômico, cultural, existencial- são construídos pelo
acúmulo e o progresso, mas essa
concepção não considera tudo o
que os sistemas deixam de fora.
Não se trata de um discurso politizado sobre a exclusão nem
mesmo de uma visão pessimista.
"O subtraído do sistema não é o
zero, é o infinito de possibilidades
do que poderia ter sido", diz.
Por isso as subtrações gravadas
nas paredes da galeria e nas mesas
que constituem a instalação terminarem em dois zeros, que remetem ao símbolo do infinito.
Climachauska esclarece que essa conceituação não deriva de
qualquer linha filosófica existente. "Eu poderia falar em Foucault,
que trata de sistemas de dominação, mas defendo que a arte é um
campo autônomo de pensamento
e, por isso, não carrego o trabalho
de outra literalidade. A autonomia é que é a aventura", explica.
O processo constitutivo dos trabalhos também oferece pistas sobre seu sentido. Nas mesas, o artista repete as operações matemáticas feitas na parede, gravando-as com uma faca. Ambos são atos
anônimos: escrever na parede e
marcar uma mesa.
Além disso, as mesas são feitas
com um material chamado MDF,
um aglomerado de alta resistência e de alta tecnologia construído
com resina sintética. "É uma madeira que passou por tamanha industrialização que tornou-se madeira nenhuma, é transgênico, é
pós-tudo", diverte-se.
Apesar do high-tech do material, o artista faz questão de deixar
a mesa com aspecto desleixado,
para indicar que não se trata de
uma obra preciosa, novo comentário sobre o sistema de arte.
A instalação montada no andar
de cima da galeria continua a discussão: "O teto da Capela Sistina é
das poucas obras-de-arte que traçam comentário sobre a construção do mundo, pois vai da criação
ao apocalipse, mas é resultado de
uma subtração de qualquer outra
forma de ver essa história".
A exposição traz ainda alguns
desenhos do artista, em que ele
ironiza a idéia de construção ao
incluir rigor matemático em um
registro puramente gestual.
(JULIANA MONACHESI)
Exposição: Zero e Sistina
Quando: vernissage hoje, às 20h. Seg. a
sex., 10h às 19h; sáb., até 14h. Até 29/4
Onde: Baró Senna (al. Gabriel Monteiro
da Silva, 296, tel. 0/xx/11/3061-9224)
Quanto: entrada franca
Preço das obras: de R$ 1.500 a R$ 9.000
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