São Paulo, quarta-feira, 22 de março de 2000


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ARTES PLÁSTICAS
Artista cujo trabalho pôde ser visto no Panorama 99 faz agora em São Paulo exposição individual com trabalhos inéditos
Climachauska potencializa obra ao zerá-la

free-lance para a Folha

Operações matemáticas desvanecem nas paredes da galeria. São subtrações de resultado zero feitas na já quase inconfundível caligrafia de Paulo Climachauska, esse artista que mais parece filósofo, em suas elucubrações estéticas.
As duas instalações que ele mostra a partir de hoje na galeria Baró Senna, "Zero" e "Sistina", comentam a construção dos sistemas do mundo. Para o artista, a ordem dessa construção é a de subtração.
"Todo sistema que se articula é redutor. A história da arte, por exemplo, é eurocêntrica e etnocêntrica. A própria história, para construir-se no sistema linear, faz algumas somas e incontáveis operações de subtração", afirma.
É comum pensar que os sistemas -econômico, cultural, existencial- são construídos pelo acúmulo e o progresso, mas essa concepção não considera tudo o que os sistemas deixam de fora.
Não se trata de um discurso politizado sobre a exclusão nem mesmo de uma visão pessimista. "O subtraído do sistema não é o zero, é o infinito de possibilidades do que poderia ter sido", diz.
Por isso as subtrações gravadas nas paredes da galeria e nas mesas que constituem a instalação terminarem em dois zeros, que remetem ao símbolo do infinito.
Climachauska esclarece que essa conceituação não deriva de qualquer linha filosófica existente. "Eu poderia falar em Foucault, que trata de sistemas de dominação, mas defendo que a arte é um campo autônomo de pensamento e, por isso, não carrego o trabalho de outra literalidade. A autonomia é que é a aventura", explica.
O processo constitutivo dos trabalhos também oferece pistas sobre seu sentido. Nas mesas, o artista repete as operações matemáticas feitas na parede, gravando-as com uma faca. Ambos são atos anônimos: escrever na parede e marcar uma mesa.
Além disso, as mesas são feitas com um material chamado MDF, um aglomerado de alta resistência e de alta tecnologia construído com resina sintética. "É uma madeira que passou por tamanha industrialização que tornou-se madeira nenhuma, é transgênico, é pós-tudo", diverte-se.
Apesar do high-tech do material, o artista faz questão de deixar a mesa com aspecto desleixado, para indicar que não se trata de uma obra preciosa, novo comentário sobre o sistema de arte.
A instalação montada no andar de cima da galeria continua a discussão: "O teto da Capela Sistina é das poucas obras-de-arte que traçam comentário sobre a construção do mundo, pois vai da criação ao apocalipse, mas é resultado de uma subtração de qualquer outra forma de ver essa história".
A exposição traz ainda alguns desenhos do artista, em que ele ironiza a idéia de construção ao incluir rigor matemático em um registro puramente gestual.
(JULIANA MONACHESI)


Exposição: Zero e Sistina Quando: vernissage hoje, às 20h. Seg. a sex., 10h às 19h; sáb., até 14h. Até 29/4 Onde: Baró Senna (al. Gabriel Monteiro da Silva, 296, tel. 0/xx/11/3061-9224) Quanto: entrada franca Preço das obras: de R$ 1.500 a R$ 9.000


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