|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Fumo está em 60% dos filmes nos EUA
Número é considerado ainda alto por estudo que aponta o cinema como responsável por 52% da iniciação ao cigarro entre os jovens
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
Um estudo divulgado no mês
passado nos Estados Unidos revelou que, apesar das campanhas antitabagistas terem ganhado fôlego nos últimos anos,
o cinema hollywoodiano pode
ainda estar bastante impregnado pela fumaça dos cigarros.
De acordo com a pesquisa
"Smoking Presentation Trends
in U.S. Movies 1991-2008"
(tendências na apresentação
do fumo em filmes dos EUA de
1991 a 2008), o cigarro ainda
aparece em cerca de 60% das
produções, independentemente da classificação indicativa. O
número, referente ao ano de
2008, é considerado alto pelos
pesquisadores, especialmente
levando em cionta o público
adolescente. Eles estimam que
52% da iniciação ao fumo entre
jovens se deva às imagens de cigarro na telona.
Feito pela Universidade da
Califórnia, em San Francisco, o
estudo analisou 1.769 títulos
produzidos em 18 anos e sugere
como "solução" adotar a classificação indicativa "R", segundo
a qual filmes com cenas de cigarro só poderiam ser vistos
por menores de 18 anos se
acompanhados de seus pais ou
de responsável.
Em entrevista por e-mail à
Folha, Jonathan Polansky, um
dos três pesquisadores que assinam o estudo, disse que na última década houve uma redução geral do número de filmes
que veiculam fumo. Isso porque os estúdios vêm produzindo mais filmes "para a família",
isto é, voltados para o público
infantil e, por isso mesmo,
100% sem cigarro.
"A preocupação é que pouco
ou nada mudou em filmes
"PG13" [não recomendado para
menores de 13], a maior categoria e o tipo de filme que adolescentes mais vêem", diz.
Polansky explica que a estimativa de que 52% da iniciação
ao fumo, entre jovens, se deve
às imagens de cigarro na telona,
é fruto de uma pesquisa da
Dartmouth Medical School, de
New Hampshire. Reconhecido
pelo U.S. National Cancer Institute (instituto nacional do
câncer dos EUA) em um documento apresentado em 2008, o
levantamento foi acrescentado
às conclusões de Polansky:
"Os adolescentes americanos
vêem mais filmes do que qualquer outro grupo etário. E a influência da imagem do fumo na
tela é muito poderosa", afirma
Polansky. "A combinação da
exposição em larga escala com
uma influência poderosa explica por que boa parte da iniciação é atribuída aos filmes."
O psiquiatra Jairo Bouer, colunista da Folha, concorda que
as imagens veiculadas no cinema, na TV e na propaganda são
incentivadoras de comportamentos entre os jovens. Para
ele, no entanto, a restrição a
imagens de cigarro no cinema,
ou a mudança na classificação
indicativa, somente em teoria
diminuiriam a "cópia":
"Poderia ser um fator a menos, mas acho que o cara não
vai deixar de fumar porque não
viu no cinema. Há outros estímulos, como a família, a escola
e os amigos", diz Bouer.
Classificação indicativa
Nos EUA, incluir ou não o fumo nos critérios de classificação indicativa seria uma decisão da Motion Picture Association of America, que representa
os principais estúdios. Em
2007, a MPAA chegou sinalizar
que o faria, ao associar-se a
uma "coalizão" de empresas de
entretenimento contrárias à
imagem de cigarros nas telas.
"A informação que temos é
que a MPAA iria anunciar a
classificação "R" para filmes
com cigarro naquele ano, mas
um estúdio grande acabou esmagando a nova política no último minuto", diz Polansky,
sem revelar qual estúdio teria
feito o lobby contrário.
Até o fechamento desta edição, a reportagem da Folha não
havia recebido comentário solicitado aos representantes da
MPAA no Brasil.
Liberdade de expressão
A defesa da inclusão das imagens de cigarro entre os critérios de classificação coloca outra questão: a dos limites da liberdade de expressão de roteiristas, diretores etc.
Polansky afirma que atualmente produtores e diretores
deliberadamente "calibram" o
conteúdo dos filmes de olho no
mercado. Aceitar uma classificação mais restrita ou tirar cenas com cigarro faz parte do
que ele chama de "mecanismo
voluntário de mercado". "E é
uma questão de saúde pública.
Não de gosto ou moral".
Em outubro do ano passado,
o veterano crítico de cinema
Roger Ebert, do "Chicago Sun-Times", disse em seu blog que,
apesar de "odiar cigarros", defende as cenas com fumo no cinema em pelo menos dois casos: como traço característico
do personagem ou marca da
época em que a ação se passa.
Ebert também ironizou a
proposta de restrição, ao lembrar as cenas com fumo que foram cortadas de "Casino Royale", reproduzindo uma entrevista em que o 007 Daniel Craig
lamentava ter podido "estourar
os miolos de alguém", mas não
acender um bom charuto.
Texto Anterior: Sinais de fumaça Próximo Texto: Universal é líder entre os estúdios Índice
|