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Paris vê os ricos e famosos de Warhol
Exposição na capital francesa apresenta 143 retratos feitos pelo maior nome da arte pop; Yves Saint Laurent tem obra retirada
Companheiro do francês reclama que retratos estavam na sala de estilistas; imagens de Mao Tsé-tung e Marilyn Monroe estão na mostra
LENEIDE DUARTE-PLON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
Na década de 60, Andy Warhol (1928-1987) cobrava US$ 25
mil para fazer retratos dos ricos
e famosos que o procuravam.
Começava por fotografá-los
com sua polaróide e depois trabalhava a foto com cores por
meio de uma técnica especial
de serigrafia sobre tela.
Os retratos eram feitos em
múltiplas cores, e o retratado
podia levar o primeiro por US$
25 mil e os seguintes por US$ 15
mil cada um. Em geral, os milionários compravam vários.
O marchand norte-americano Paul Polsky, autor do livro "I
Bought Andy Warhol" (eu comprei Andy Warhol; ed. Bloomsbury, importado), ressalta que
"a repetição é um elemento
muito importante da estética
de Warhol".
Considerado um gênio da arte e dos negócios, o artista pop
mais conhecido do século 20
gostava de dinheiro e do "grand
monde", como os franceses
costumam chamar o mundo
dos ricos e poderosos.
Trinta anos após uma grande
retrospectiva feita nos Estados
Unidos, o Grand Palais, em Paris, inaugurou na última quarta-feira a maior exposição do
artista.
Chamada "Le Grand Monde
d'Andy Warhol" (o grande
mundo de Andy Warhol), a
mostra tem 143 obras e é dedicada aos retratos feitos por
Warhol durante toda a sua carreira. Logo, as célebres latas de
sopa Campbell e as garrafas de
Coca-Cola estão ausentes.
Mas podemos ver o magnífico "Última Ceia", de 1987, que
não mostra os 12 discípulos
ceando com Jesus, mas apenas
um retrato de Cristo multiplicado 112 vezes.
Indústria da arte
"Com essa série de "portraits", Warhol retratou toda a
sociedade, pondo em prática
uma nova forma de produção
artística, em série, quase industrial", escreve na apresentação
da exposição o historiador de
arte e curador Alain Cueff.
Nomes como Mao Tsé-tung,
Marilyn Monroe, Liz Taylor,
Lênin ou Jacqueline Kennedy
não chegaram a posar para a
polaróide de Warhol. Ele os retratou a partir de fotos de outros fotógrafos.
Na realidade, tudo começou
com o retrato de Marilyn
Monroe, feito em 1962, logo
após a morte da atriz. O marchand do artista, Leo Castelli, o
vendeu por US$ 1.800 ao colecionador Leon Kraushar, que o
guardou até sua morte, em
1967, quando foi comprado por
um alemão por US$ 25 mil.
Em 1998, o retrato de Marilyn por Warhol foi revendido
pela Sotheby's por US$ 17,3 milhões, um recorde na época para uma obra contemporânea.
Atualmente, os preços dos retratos do artista começaram a
cair, oscilando entre US$ 250
mil e US$ 800 mil.
Obra retirada
Até sua morte, em 1987,
Andy Warhol havia feito retratos de estrelas do cinema, como
Liz Taylor, Brigitte Bardot e Jane Fonda; de astros do rock, como Madonna e Mick Jagger; de
políticos, como Willy Brandt, o
xá da Pérsia e Edward Kennedy; e de personagens do jet-set internacional, como Gianni
Agnelli, Caroline de Mônaco ou
a princesa Lee Radziwill, irmã
de Jackie Onassis.
A montagem da exposição foi
perturbada pela polêmica entre
o companheiro de Yves Saint
Laurent (1936-2008), Pierre
Bergé, e o curador Cueff. Os
quatro retratos de Yves Saint
Laurent feitos por Warhol haviam sido emprestados por
Bergé para a exposição.
Como foram colocados na sala Glamour, onde há retratos de
outros estilistas como Giorgio
Armani, Sonia Rykiel e Hélène
Rochas, Bergé preferiu retirá-los por não concordar que Saint
Laurent fosse visto como um
simples "couturier" (costureiro), e não como um artista.
Ele queria ver Saint Laurent
ao lado dos retratos de Man
Ray, Roy Lichtenstein e David
Hockney. O curador não conseguiu convencer Bergé a deixar o
quadro onde fora colocado. Na
véspera da inauguração, Bergé
mandou retirar Saint Laurent
do Grand Palais.
Apesar dessa lacuna, a mostra é uma síntese formidável da
obra de um grande artista, muitas vezes confundido com sua
imagem de mundano, cínico e
cúmplice da superficialidade
que cerca as celebridades.
Não foi o próprio Andy Warhol quem disse que, no futuro,
todo mundo teria 15 minutos
de fama?
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