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Coleção Folha reúne retratos da infância
Nono volume dedicado à fotografia chega às bancas no próximo domingo
Livro traz imagens de crianças realizadas por W. Eugene Smith, Robert Doisneau, David Seymour
e Sebastião Salgado
DA REPORTAGEM LOCAL
Crianças fotografadas em situação de risco, miséria, fome e
guerra sempre foi, na história
da mídia, um potente golpe
contra a intolerância e os absurdos cometidos pelos homens e seus processos políticos, econômicos e culturais.
"Infância" -nono volume da
Coleção Folha Grandes Fotógrafos, que chega às bancas no
próximo domingo, dia 29- é
uma amostra contundente dessa história. O volume possui 21
imagens realizadas por W. Eugene Smith, Robert Doisneau,
David Seymour, Steve
McCurry e Sebastião Salgado,
entre 1934 e 1998.
Em diversas imagens, o olhar
das crianças para a câmera cria
uma comunicação direta e de
grande comoção. Na imagem
que abre o livro, de autoria de
Salgado, três meninos ruandeses, refugiados e órfãos, estão
sob uma coberta, com parte dos
rostos destapados. A intensidade do olhar dos três, entre a desolação, a perplexidade e o medo, é um manifesto dos mais comoventes que a fotografia do
brasileiro já produziu.
Outro olhar, mais um abismo: na foto de David Seymour
realizada em 1948, na Polônia, a
menina Teresa, sobrevivente
de um campo de extermínio,
desenha sua casa na lousa de
uma clínica para crianças com
transtornos mentais. Seu olhar
procura o fotógrafo. Na lousa, a
casa desenhada é um amontoado de riscos que se assemelha a
um labirinto.
Leveza
Mas, além de denúncia, mazelas e tristeza, "Infância" traz
imagens nas quais as crianças
refletem a leveza da vida, sobretudo nas brincadeiras e na
capacidade de perceber o sublime nas coisas mais simples, como na fotografia de Smith que
ilustra a capa do volume, em
que seu filho Patrick se deita
sobre algumas rochas e coloca a
mão na água, reproduzindo a
imagem clássica de Narciso.
A leveza também é o tema de
Doisneau, que realizou grande
parte de sua obra perambulando por Paris à cata de flagrantes
poéticos, por vezes até surreais,
como na composição, de 1934,
na qual dois garotos igualmente trajados e andando na rua
apoiados nas mãos criam um
sincronismo que reverbera em
outros dois garotos, abraçados,
no segundo plano, também trajados de forma idêntica.
Dois retratos de crianças feitos por McCurry na Ásia, que
buscam no olhar infantil uma
expressão de grande força, servem de contraponto para as
duas imagens das páginas anteriores, em que Salgado mostra
sem véus a fome no Mali.
E cabe a Salgado fechar o volume, com uma imagem realizada em SP, no bairro do Pacaembu, em 1996. A forte granulação da imagem em preto-e-branco dramatiza ainda mais
a cena das dezenas de bebês
abandonados tomando sol numa varanda de um centro assistencial. Sabiamente, ele enquadra também, ao fundo, diversos
arranha-céus, signo da riqueza.
O fotógrafo-economista dá formas claras ao seu manifesto.
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