São Paulo, domingo, 22 de março de 2009

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Coleção Folha reúne retratos da infância

Nono volume dedicado à fotografia chega às bancas no próximo domingo

Livro traz imagens de crianças realizadas por W. Eugene Smith, Robert Doisneau, David Seymour e Sebastião Salgado

DA REPORTAGEM LOCAL

Crianças fotografadas em situação de risco, miséria, fome e guerra sempre foi, na história da mídia, um potente golpe contra a intolerância e os absurdos cometidos pelos homens e seus processos políticos, econômicos e culturais.
"Infância" -nono volume da Coleção Folha Grandes Fotógrafos, que chega às bancas no próximo domingo, dia 29- é uma amostra contundente dessa história. O volume possui 21 imagens realizadas por W. Eugene Smith, Robert Doisneau, David Seymour, Steve McCurry e Sebastião Salgado, entre 1934 e 1998.
Em diversas imagens, o olhar das crianças para a câmera cria uma comunicação direta e de grande comoção. Na imagem que abre o livro, de autoria de Salgado, três meninos ruandeses, refugiados e órfãos, estão sob uma coberta, com parte dos rostos destapados. A intensidade do olhar dos três, entre a desolação, a perplexidade e o medo, é um manifesto dos mais comoventes que a fotografia do brasileiro já produziu.
Outro olhar, mais um abismo: na foto de David Seymour realizada em 1948, na Polônia, a menina Teresa, sobrevivente de um campo de extermínio, desenha sua casa na lousa de uma clínica para crianças com transtornos mentais. Seu olhar procura o fotógrafo. Na lousa, a casa desenhada é um amontoado de riscos que se assemelha a um labirinto.

Leveza
Mas, além de denúncia, mazelas e tristeza, "Infância" traz imagens nas quais as crianças refletem a leveza da vida, sobretudo nas brincadeiras e na capacidade de perceber o sublime nas coisas mais simples, como na fotografia de Smith que ilustra a capa do volume, em que seu filho Patrick se deita sobre algumas rochas e coloca a mão na água, reproduzindo a imagem clássica de Narciso.
A leveza também é o tema de Doisneau, que realizou grande parte de sua obra perambulando por Paris à cata de flagrantes poéticos, por vezes até surreais, como na composição, de 1934, na qual dois garotos igualmente trajados e andando na rua apoiados nas mãos criam um sincronismo que reverbera em outros dois garotos, abraçados, no segundo plano, também trajados de forma idêntica.
Dois retratos de crianças feitos por McCurry na Ásia, que buscam no olhar infantil uma expressão de grande força, servem de contraponto para as duas imagens das páginas anteriores, em que Salgado mostra sem véus a fome no Mali.
E cabe a Salgado fechar o volume, com uma imagem realizada em SP, no bairro do Pacaembu, em 1996. A forte granulação da imagem em preto-e-branco dramatiza ainda mais a cena das dezenas de bebês abandonados tomando sol numa varanda de um centro assistencial. Sabiamente, ele enquadra também, ao fundo, diversos arranha-céus, signo da riqueza. O fotógrafo-economista dá formas claras ao seu manifesto.


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