São Paulo, segunda-feira, 22 de março de 2010

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ANÁLISE

EZTV vive de demoras na distribuição

RONALDO LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA
PEDRO MIZUKAMI
ESPECIAL PARA A FOLHA

A janela que separa a exibição de novos episódios do seriado "Lost" no Brasil de sua estreia nos EUA foi reduzida. O espectador brasileiro espera apenas duas semanas (aumentou em uma semana após a reprise da estreia no Carnaval), se for assinante de TV a cabo. Seria um prazo razoável. Ou será que não?
Grupos como o EZTV sobrevivem nas lacunas das janelas (ou atrasos) de distribuição, que se tornaram artificiais com a internet. Difícil escalonar a exibição no tempo quando o contexto tecnológico viabiliza o acesso imediato.
Enquanto os norte-americanos têm acesso gratuito a episódios completos de "Lost" no site da rede ABC, tão logo exibidos na TV, o Brasil fica de fora (o site só funciona por lá). Isso expõe um nó a ser resolvido: acordos de licenciamento limitados geograficamente, em contraste com a rede que teima em ser global. O problema é o mesmo com música, cinema, videogames ou literatura. Mas são os seriados de televisão os grandes estandartes dessa questão.
Resolver esse problema é importante e difícil. As janelas contrariam uma demanda do espectador por acesso imediato, mas que vai além. Abrange a "portabilidade" quanto aos canais de distribuição. O consumidor quer ver o programa no seu aparelho de televisão, mas também no computador, no celular, no iPod ou no iPad. O EZTV é um dos muitos grupos organizados na rede que surgem da impossibilidade de realizar oficialmente essas diferentes demandas.
Ao ocupar o espaço deixado pela ausência de alternativas oficiais, essas comunidades acabam moldando os hábitos e expectativas de boa parcela dos consumidores para o futuro.
Solucionar essa questão não é fácil. Depende de mudanças de práticas contratuais e licenciamento e, antes delas, de uma reorganização de modelos de negócio.
Existem hoje canais oficiais que vão nesse sentido, como o Hulu, Spotify, Lala, iTunes, Amazon e Steam. Juntos, são plataformas de teste que lideram uma renovação em curso. Mas todos enfrentam limitações regionais e de flexibilidade no acesso ao conteúdo.
A época é de inovação. O que está por vir vai ser moldado não apenas pelos canais de distribuição tradicionais, mas também pela atividade de grupos como o EZTV.
Competir com eles, no fim das contas, pode realmente valer a pena.


PEDRO MIZUKAMI é coordenador do projeto Game Studies do CTS-FGV


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