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ANÁLISE
EZTV vive de demoras na distribuição
RONALDO LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA
PEDRO MIZUKAMI
ESPECIAL PARA A FOLHA
A janela que separa a exibição de novos episódios do seriado "Lost" no Brasil de sua estreia nos EUA foi reduzida. O
espectador brasileiro espera
apenas duas semanas (aumentou em uma semana após a reprise da estreia no Carnaval), se
for assinante de TV a cabo.
Seria um prazo razoável. Ou
será que não?
Grupos como o EZTV sobrevivem nas lacunas das janelas
(ou atrasos) de distribuição,
que se tornaram artificiais com
a internet. Difícil escalonar a
exibição no tempo quando o
contexto tecnológico viabiliza o
acesso imediato.
Enquanto os norte-americanos têm acesso gratuito a episódios completos de "Lost" no site da rede ABC, tão logo exibidos na TV, o Brasil fica de fora
(o site só funciona por lá).
Isso expõe um nó a ser resolvido: acordos de licenciamento
limitados geograficamente, em
contraste com a rede que teima
em ser global. O problema é o
mesmo com música, cinema,
videogames ou literatura. Mas
são os seriados de televisão os
grandes estandartes dessa
questão.
Resolver esse problema é importante e difícil. As janelas
contrariam uma demanda do
espectador por acesso imediato, mas que vai além. Abrange a
"portabilidade" quanto aos canais de distribuição.
O consumidor quer ver o
programa no seu aparelho de
televisão, mas também no computador, no celular, no iPod ou
no iPad. O EZTV é um dos muitos grupos organizados na rede
que surgem da impossibilidade
de realizar oficialmente essas
diferentes demandas.
Ao ocupar o espaço deixado
pela ausência de alternativas
oficiais, essas comunidades
acabam moldando os hábitos e
expectativas de boa parcela dos
consumidores para o futuro.
Solucionar essa questão não
é fácil. Depende de mudanças
de práticas contratuais e licenciamento e, antes delas, de uma
reorganização de modelos de
negócio.
Existem hoje canais oficiais
que vão nesse sentido, como o
Hulu, Spotify, Lala, iTunes,
Amazon e Steam. Juntos, são
plataformas de teste que lideram uma renovação em curso.
Mas todos enfrentam limitações regionais e de flexibilidade
no acesso ao conteúdo.
A época é de inovação. O que
está por vir vai ser moldado não
apenas pelos canais de distribuição tradicionais, mas também pela atividade de grupos
como o EZTV.
Competir com eles, no fim
das contas, pode realmente valer a pena.
PEDRO MIZUKAMI é coordenador do projeto
Game Studies do CTS-FGV
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