São Paulo, sábado, 22 de abril de 2000


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Tribo assimilou contato sem perder identidade

da Reportagem Local

Os índios uaianas vivem no recôncavo do Tumucumaque, entre os rios Jari e Paru, afluentes da margem esquerda do rio Amazonas, na fronteira do Pará com a Guiana e o Suriname. Segundo a curadora Lúcia Hussak van Velthen, ao todo, em território brasileiro, vivem cerca de 500 uaianas a aparaís (etnia com a qual dividem o mesmo território).
Os uaianas foram contatados pelos brancos no início do século, mas a aproximação se intensificou a partir dos anos 60. "Durante o período militar, o acesso ao local era mais fácil, pois a FAB (Força Aérea Brasileira) tinha dois vôos mensais para a região. Agora nunca se sabe quando terá um vôo", disse a curadora.
Eles pertencem ao grupo indígena caraíba, que, na época da colonização das Américas, ocupava as Pequenas Antilhas, as Guianas e litoral centro-americano.
O contato com o homem branco promoveu, assim como em várias outras tribos indígenas, uma espécie de hibridização. Eles produzem objetos com materiais não-indígenas , como miçangas, que são incorporados pela sociedade dentro de uma lógica interna própria, e também criam objetos para a venda. "As culturas indígenas não permanecem estáticas. Elas mudam constantemente, assim como as outras culturas", disse Van Velthen.
Os uaianas falam carib, uma língua muito complexa, que possui sete declinações, muitos pronomes, vários tempos verbais, junção de palavras, regras de educação e tratamento muito complexAs. O próprio termo "uaiana" significa "eu gente", pois estabelece a relação da pessoa com as esferas naturais e sobrenaturais .
"Os uaianas só comem devagar e sentados. Também estão constantemente cuidando de seu eu e dos outros eus" ("uaianaman" significa "o outro"), diz ela.
A iconografia uaiana permite à tribo a visualização dos mitos e a representação de seu cotidiano. Um dos desenhos mais recorrentes na iconografia da tribo é a onça de duas cabeças (veja fotos de banco e de abano à direita). "Trata-se de um ser antropofágico, o mais feroz e bonito da cultura uaiana. O fato de ser bicéfalo é sinal de sua ferocidade", disse.
Sua iconografia pode ser resumida em três padrões. A pintura lisa representa a humanidade (o uaiana e os outros); o pontilhado significa a onça e, consequentemente, o mundo natural; o listrado é o arco-íris ou a grande serpente (o sobrenatural). (CF)

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