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DIÁLOGOS IMPERTINENTES - ARTIGO
A intranquila soberania que atravessa o século
MARIO SERGIO CORTELLA
especial para a Folha
Pensar em soberania, nestes
tempos de exaltada globalização,
não seria um desejo ingênuo ou
arcaísmo ideológico? Não teríamos nós, os contemporâneos,
atingido um estágio de comunidade internacional que dispensa
fronteiras virtuais e rejeita a presença pouco pragmática das suscetibilidades políticas românticas?
Ou, resistindo à tendência hegemônica, ainda é possível defender
o conceito de soberania como
uma salvaguarda da autodeterminação nacional?
Em torno dessas indagações
nos reunimos, na noite de 28 de
março passado, para um diálogo
de duas horas sobre "A Soberania", entre o deputado federal pelo PT-SP, José Genoíno, e o cientista político da Unicamp, Leôncio Martins Rodrigues.
Segundo programa da série
2000 dos "Diálogos Impertinentes" (iniciado já o sexto ano com
promoção conjunta Folha, Sesc e
PUC-SP), "A Soberania" aconteceu no Tuca (Teatro da Universidade Católica) na capital paulista,
com transmissão nacional ao vivo
pela TV PUC; e teve, também, a
mediação de Nilton Cunha, da
Gerência de Estudos e Desenvolvimento do Sesc.
O diálogo fez-se, durante extensa parte do início, em torno das
modificações que a noção e a prática da soberania vem sofrendo.
Leôncio Rodrigues ponderou,
inclusive, que "a mais fundamental mudança vem sendo a diminuição voluntária da soberania de
muitos países". Segundo ele, em
função da formação de blocos
econômicos, desde os anos 50 há
um movimento de abdicação intencional de parte da soberania,
tendo em vista a necessidade de
fortalecimento interdependente.
Sobre esse ponto, José Genoíno
afirmou que "a questão dos estados nacionais não está superada
pela globalização". "Esses pactos
regionais têm um grau de êxito de
funcionamento quando há uma
certa igualdade da condição econômica, política e militar entre os
integrantes", disse. Para o deputado, a soberania é a capacidade de
decidir em relação a outros Estados, junto à autonomia interna.
Falou-se, também, sobre a existência de algumas pressões internacionais no sentido da criação
de um direito global, um direito
comunitário mundial, ao qual deveriam subordinar-se as constituições nacionais. Ainda, discutiu-se se uma "sociedade de nações" não poderia servir de contrapeso ao poder de organismos
como o FMI e o Banco Mundial,
que interferem decisivamente na
soberania nacional.
Haverá lugar para uma convivência autônoma, mas com valores universais?
O próximo "Diálogos Impertinentes" acontece nesta terça, tendo "A Mídia" como tema e os debatedores Ciro Marcondes Filho,
professor titular de teoria da comunicação e teoria do jornalismo
da ECA-USP, e Marco Antônio
Araújo, diretor de redação das revistas "Educação", "Ensino Superior" e "Fera!", chefe de redação
da "Gazeta Esportiva" e coordenador do curso de jornalismo da
Fundação Cásper Líbero.
Mario Sergio Cortella é filósofo, professor
do departamento de teologia e ciências da
religião da PUC-SP e mediador dos "Diálogos
Impertinentes"
Evento: Diálogos Impertinentes
Tema: A Mídia
Debatedores: Ciro Marcondes Filho e
Marco Antônio Araújo
Quando: terça, dia 25, às 22h
Onde: Teatro de Arena do Tuca (r. Monte
Alegre, 1.024, São Paulo)
Quanto: grátis
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