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MÚSICA
"Ensaio" tira Sérgio Santos de sua toca
ISRAEL DO VALE
DA REPORTAGEM LOCAL
Um mineiro de três discos e um
talento comparável apenas à sua
discrição e paciência toma a tela
da Cultura esta noite, em mais um
imprescindível "Ensaio", de Fernando Faro. Carreira conduzida
pela sombra, mas firme, "retrato
dessa mistureba que o Brasil é",
como diz no programa, Sérgio
Santos é mais uma incógnita de
longa trajetória (e lá se vão duas
décadas de folha corrida) que parece sempre surgir do nada.
Neste caso, a ironia das coincidências ajuda a rir. Nascido em
Varginha, a terra dos ETs, como
brinca ele mesmo no especial, salta de seu disco voador para a TV
com um histórico de 180 parcerias
com ninguém menos que Paulo
César Pinheiro -um dos mais
significativos e prolíficos compositores brasileiros vivos.
Pinheiro está para Sérgio Santos
como Aldir Blanc para João Bosco
e Ronaldo Bastos para Milton
Nascimento. São, todos, escribas
de letras sedimentadas na música,
de tão íntimas e integradas à harmonia -talvez a contribuição
mais incontestável dos mineiros
para a MPB.
O especial transpira a reverência de Santos a Pinheiro -"um
mangueirense que gravou música
sobre a Portela", entrega o amigo.
Mas não fica nisso. Entre as narrativas de seu histórico de filho de
carioca com alagoano que cresceu
ouvindo jazz nas rádios ou vendo
espetáculos de moda de viola,
congado e folia de reis pelas ruas
das Gerais, Santos desfolha reverências ao patriarca do clã Caymmi ("duas palavras dele são uma
enciclopédia"), canta o filho Dori
("Desenredo", com Paulo C. Pinheiro, influência primeva), resgata dobradinha de Edu Lobo e
Torquato ("Pra Dizer Adeus",
1967) que o marcou, de menino.
Vencidos os hiatos da "brincadeira de adivinhação" das perguntas inaudíveis oferecidas pelo
"Ensaio" ao espectador, relembra
o início profissional em "Missa de
Quilombos" (1982), de Milton
Nascimento e Pedro Casaldáliga e
seu histórico musical de um africanismo intuitivo, colhido nos
festejos populares.
ENSAIO. Quando: hoje, 22h30, na TV
Cultura
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