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São Paulo, terça-feira, 22 de abril de 2003

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MÚSICA

"Ensaio" tira Sérgio Santos de sua toca

ISRAEL DO VALE
DA REPORTAGEM LOCAL

Um mineiro de três discos e um talento comparável apenas à sua discrição e paciência toma a tela da Cultura esta noite, em mais um imprescindível "Ensaio", de Fernando Faro. Carreira conduzida pela sombra, mas firme, "retrato dessa mistureba que o Brasil é", como diz no programa, Sérgio Santos é mais uma incógnita de longa trajetória (e lá se vão duas décadas de folha corrida) que parece sempre surgir do nada.
Neste caso, a ironia das coincidências ajuda a rir. Nascido em Varginha, a terra dos ETs, como brinca ele mesmo no especial, salta de seu disco voador para a TV com um histórico de 180 parcerias com ninguém menos que Paulo César Pinheiro -um dos mais significativos e prolíficos compositores brasileiros vivos.
Pinheiro está para Sérgio Santos como Aldir Blanc para João Bosco e Ronaldo Bastos para Milton Nascimento. São, todos, escribas de letras sedimentadas na música, de tão íntimas e integradas à harmonia -talvez a contribuição mais incontestável dos mineiros para a MPB.
O especial transpira a reverência de Santos a Pinheiro -"um mangueirense que gravou música sobre a Portela", entrega o amigo. Mas não fica nisso. Entre as narrativas de seu histórico de filho de carioca com alagoano que cresceu ouvindo jazz nas rádios ou vendo espetáculos de moda de viola, congado e folia de reis pelas ruas das Gerais, Santos desfolha reverências ao patriarca do clã Caymmi ("duas palavras dele são uma enciclopédia"), canta o filho Dori ("Desenredo", com Paulo C. Pinheiro, influência primeva), resgata dobradinha de Edu Lobo e Torquato ("Pra Dizer Adeus", 1967) que o marcou, de menino.
Vencidos os hiatos da "brincadeira de adivinhação" das perguntas inaudíveis oferecidas pelo "Ensaio" ao espectador, relembra o início profissional em "Missa de Quilombos" (1982), de Milton Nascimento e Pedro Casaldáliga e seu histórico musical de um africanismo intuitivo, colhido nos festejos populares.


ENSAIO. Quando: hoje, 22h30, na TV Cultura


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