|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARTES PLÁSTICAS/CRÍTICA
Tríptico atesta "conservadorismo" de Jan van Dornicke
FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA
Qual a importância da recente doação da pintura de Van
Dornicke (aprox. 1470 - aprox.
1527) ao Masp? "Jan van Dornicke
no Acervo do Masp" apresenta a
nova peça recorrendo ao confronto com outros elementos da
coleção do museu.
O tríptico "Cristo Carregando a
Cruz, a Crucificação e o Sepultamento" é um óleo sobre tábua dos
anos 1520. Feito em Antuérpia,
provém de um dos primeiros centros de reformistas religiosos dos
Países Baixos. A técnica utilizada
testemunha a valorização da imagem ordenada e clara do mundo.
A tinta a óleo fora descoberta
por Jan van Eyck (1385-1441),
compatriota de Van Dornicke,
apenas um século antes. Desde
então, espalhara-se até Roma e
Florença, fazendo da pintura luminosa uma glória da Holanda.
A pintura de Van Dornicke evidencia a minúcia detalhista na
composição da cena. A secagem
rápida da tinta permitia pinceladas fragmentárias, mas cuja união
final era tão perfeita que apagava
as evidências de trabalho manual.
A obra do Masp segue as convenções da época. O gestual é decoroso, e a indumentária, rica. A
ação é ornada por figuras em poses variadas, superpostas na frente. No segundo plano das três tábuas articuladas, a cidade murada. O formato de tríptico ordena a
narrativa sacra da esquerda para a
direita: "Carregando a Cruz",
"Crucificação" e "Sepultamento".
O móvel podia permanecer aberto como um altar, ou fechar-se até
cada Sexta-Feira da Paixão.
Embora representativa, a peça
em destaque ganha maior interesse pelo confronto com as demais
obras expostas. "As Tentações de
Santo Antão" (aprox. 1500), de
Bosch, opõe-se ao conservadorismo de Van Dornicke: enquanto a
paisagem do tríptico é regradamente distribuída, o campo de
Bosch é dividido entre a paz idílica e o incêndio dos vilarejos. Por
outro lado, a expressão contida da
violência no quadro de três faces
contrasta com a hemorragia cortante da talha do "Cristo Crucificado" (Espanha, séc. 15): a chaga
do flanco verte fluxo de pregos
com cabeças vermelhas.
A celebração do novo dote do
museu é justificada pela oportunidade de ampliar o acervo existente, mantendo sua qualidade. A
curadoria é sintética, e as informações complementares, esclarecedoras.
Jan van Dornicke
Onde: Masp (av. Paulista, 1.578, SP, tel.
0/xx/11/251-5644)
Quando: de ter. a dom., das 11h às 18h;
até 30/4
Quanto: R$ 10
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Panorâmica - Debate: Seminário discute obra de Max Weber Índice
|