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Crítica/"Nosso Amor do Passado"
Diretor estreante apresenta boa surpresa
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
"Nosso Amor do Passado" é um filme
de pequenas digressões. Nada é muito objetivo
no roteiro de Gabrielle Zevin,
na direção de Hans Canosa e
nas atuações de Aaron Eckhart
("Obrigado por Fumar") e Helena Bonham Carter ("Peixe
Grande") -o que está longe de
ser ruim.
Os diálogos, por exemplo, são
carregados de bem sacadas metáforas e tiradas irônicas. Por
conta deles os personagens só
se expressam de maneira indireta -falam uma coisa, mas
querem dizer outra.
A imagem, graças ao velho
porém pouco explorado recurso do "split screen" (a tela dividida, sempre em dois pedaços),
está na cena, mas também não
está lá. Às vezes, um pedaço da
tela exibe o que acontece enquanto o outro mostra um pensamento. Às vezes, cada pedaço
da tela mostra um ponto de vista diferente para um mesmo fato. Outras vezes, ainda, um pedaço dá um pulo no passado, não como um flashback careta,
mas sim como uma ilustração
possível de como esse passado
poderia ter sido.
O conceito básico do filme é
simples. Um homem e uma
mulher, ambos beirando os 40
anos, se encontram em uma
festa de casamento. Eles têm
"um passado". Nunca falam dele de forma direta, mas esse
passado se faz sempre presente
-nos olhares, nas palavras, nos
movimentos.
Em algum momento eles terão de resolvê-lo, quer dizer,
(re)viver aquele amor mais
uma vez, no presente, mesmo
que já estejam com outros sérios comprometimentos afetivos. A dualidade, o isolamento
entre os dois, a possibilidade de
comunicação, tudo se faz ver
também na forma, sem que isso
seja um formalismo.
Na estrutura simples, baseada no diálogo e na câmera que
acompanha de perto os personagens, "Nosso Amor do Passado" lembra muito as experiências de Richard Linklater nos bons "Antes do Amanhecer" e
"Antes do Pôr-do-Sol".
Canosa, estreante em longas,
montou uma versão para a TV
sem tela dividida, uma outra
com uso recorrente -mas não
o tempo inteiro- da tela dividida, que foi exibida em festivais
e lançada comercialmente nos
cinemas (aqui o filme sai direto
em DVD), e uma terceira, na
qual o filme é todo contado com
a tela dividida (disponível nos
extras do DVD brasileiro).
"Nosso Amor do Passado"
não vai mudar o cinema, mas é
uma grata surpresa.
NOSSO AMOR DO PASSADO
Direção: Hans Canosa
Distribuidora: VideoFilmes (só para locação)
Avaliação: bom
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