São Paulo, domingo, 22 de abril de 2007

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Crítica/"Nosso Amor do Passado"

Diretor estreante apresenta boa surpresa

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

"Nosso Amor do Passado" é um filme de pequenas digressões. Nada é muito objetivo no roteiro de Gabrielle Zevin, na direção de Hans Canosa e nas atuações de Aaron Eckhart ("Obrigado por Fumar") e Helena Bonham Carter ("Peixe Grande") -o que está longe de ser ruim.
Os diálogos, por exemplo, são carregados de bem sacadas metáforas e tiradas irônicas. Por conta deles os personagens só se expressam de maneira indireta -falam uma coisa, mas querem dizer outra.
A imagem, graças ao velho porém pouco explorado recurso do "split screen" (a tela dividida, sempre em dois pedaços), está na cena, mas também não está lá. Às vezes, um pedaço da tela exibe o que acontece enquanto o outro mostra um pensamento. Às vezes, cada pedaço da tela mostra um ponto de vista diferente para um mesmo fato. Outras vezes, ainda, um pedaço dá um pulo no passado, não como um flashback careta, mas sim como uma ilustração possível de como esse passado poderia ter sido.
O conceito básico do filme é simples. Um homem e uma mulher, ambos beirando os 40 anos, se encontram em uma festa de casamento. Eles têm "um passado". Nunca falam dele de forma direta, mas esse passado se faz sempre presente -nos olhares, nas palavras, nos movimentos.
Em algum momento eles terão de resolvê-lo, quer dizer, (re)viver aquele amor mais uma vez, no presente, mesmo que já estejam com outros sérios comprometimentos afetivos. A dualidade, o isolamento entre os dois, a possibilidade de comunicação, tudo se faz ver também na forma, sem que isso seja um formalismo.
Na estrutura simples, baseada no diálogo e na câmera que acompanha de perto os personagens, "Nosso Amor do Passado" lembra muito as experiências de Richard Linklater nos bons "Antes do Amanhecer" e "Antes do Pôr-do-Sol".
Canosa, estreante em longas, montou uma versão para a TV sem tela dividida, uma outra com uso recorrente -mas não o tempo inteiro- da tela dividida, que foi exibida em festivais e lançada comercialmente nos cinemas (aqui o filme sai direto em DVD), e uma terceira, na qual o filme é todo contado com a tela dividida (disponível nos extras do DVD brasileiro).
"Nosso Amor do Passado" não vai mudar o cinema, mas é uma grata surpresa.


NOSSO AMOR DO PASSADO
Direção:
Hans Canosa
Distribuidora: VideoFilmes (só para locação)
Avaliação: bom


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