São Paulo, terça, 22 de abril de 1997.

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Von Büllow possuía Steinway raro

da Reportagem Local

No início do século 19, numa orquestra, apenas os solistas, como o violinista e compositor Niccollò Paganini (1782-1840), atraíam multidões de admiradores incondicionais. Bem mais tarde, o primeiro maestro a reunir um seleto fã-clube foi Hans Guido von Büllow (1830-1894).
Em 1854, a Steinway & Sons produziu três pianos, com caixa em jacarandá da Bahia, que presenteou às três grandes personalidades da música germânica de então.
O primeiro foi para Liszt, o segundo para Wagner, e o terceiro para von Büllow. O seu Steinway tem o número de série 182. Os que são produzidos hoje estão com a numeração acima de 540 mil.
Outra curiosidade: quando a família Steinway se mudou para os Estados Unidos, seus remanescentes na Alemanha produziram os instrumentos com números de séries de 1 até 640.
Assim, trata-se de um instrumento alemão, feito em Brawmschweig, cidade próxima a Hanover. O Steinway voltaria a ser fabricado na Alemanha -por uma empresa familiar, subsidiária da matriz norte-americana- só 60 anos mais tarde.
Pois o instrumento esteve no Brasil por 11 anos, entre 1975 e 1986. Em 1985, foi usado pelo pianista Amaral Vieira, no Festival de Campos do Jordão, e para a gravação de um LP com peças de Wagner transcritas por Liszt.
Eugênio Follman, pianista e ``luthier'' húngaro radicado no Brasil, era o então proprietário do instrumento. Ele diz tê-lo comprado em 1969, na Alemanha, da família Hoberg, uma das atuais ramificações da genealogia von Büllow.
Ele se separou de sua mulher, que ficou com o piano e o vendeu para um marchand de Nova York, chamado Maximilian Rutten, a quem a Folha localizou e contatou. Rutten, no entanto, não respondeu ao fax que indagava sobre o destino do Steinway. Follman obteve no ano passado a informação de que ele estava na Áustria.
O Steinway von Büllow (a assinatura do primeiro proprietário está dentro da caixa, com a data de 1862) é um instrumento que qualquer pianista ou colecionador adoraria possuir.
Pela sonoridade que produz, mas também pelo encanto de se imaginar quem nele já tocou. Como von Büllow foi genro de Liszt, é provável que esse, por exemplo, tenha utilizado o instrumento.
O Steinway pertenceu ao maestro quando esse ainda era muito amigo de Richard Wagner, cujo Steinway gêmeo teria sido destruído durante a última Guerra.
O relacionamento entre Wagner e von Büllow azedou quando Wagner se apaixonou por Cosima, que abandonou o maestro para se casar com o compositor. É provável que von Büllow tenha por isso se aproximado de Brahms, inimigo estético de Wagner. (JBN)

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