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RELÂMPAGOS
Capela
JOÃO GILBERTO NOLL
Quando ela entrou na cabine da loja, sobraçando aquelas roupas todas que não teria
onde usar nem muito menos
como pagar, ensaiando na
certa o papel de Cinderela,
quando entrou nesse cubículo apertado cheirando a cigarro, caiu-lhe um golpe que a
fez livrar-se das mercadorias,
buscar a sua mão no espelho e
quase desmaiar. Quem poderia agora consolá-la se não ela
própria, despindo-se espelhada? Quem mais, se não o atendente da loja que entrava sorrateiro na cabine e a abraçava
por trás? Quem mais então, se
não os dois desconhecidos,
ali? Ali não se ouviam sussurros nem outro ruído que não
o da mosca. Zumbido providencial, para que o exíguo espaço não parecesse o suspeitoso túmulo que era. Túmulo
aflito, onde dois corpos tiravam de si um gozo fininho,
encoberto, estagnado...
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