São Paulo, segunda-feira, 22 de maio de 2000


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RELÂMPAGOS

Capela

JOÃO GILBERTO NOLL

Quando ela entrou na cabine da loja, sobraçando aquelas roupas todas que não teria onde usar nem muito menos como pagar, ensaiando na certa o papel de Cinderela, quando entrou nesse cubículo apertado cheirando a cigarro, caiu-lhe um golpe que a fez livrar-se das mercadorias, buscar a sua mão no espelho e quase desmaiar. Quem poderia agora consolá-la se não ela própria, despindo-se espelhada? Quem mais, se não o atendente da loja que entrava sorrateiro na cabine e a abraçava por trás? Quem mais então, se não os dois desconhecidos, ali? Ali não se ouviam sussurros nem outro ruído que não o da mosca. Zumbido providencial, para que o exíguo espaço não parecesse o suspeitoso túmulo que era. Túmulo aflito, onde dois corpos tiravam de si um gozo fininho, encoberto, estagnado...



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