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'NOITE ILUSTRADA' COMEMORA UMA DÉCADA
10 ANOS EM CLARO
MARCELO RUBENS PAIVA
ARTICULISTA DA FOLHA
Quando há dez anos a jornalista
Erika Palomino, 34 -uma ex-bailarina profissional carioca que
frequentava o Papagaio's Disco
Club de meias lurex e cabelos frisados e sabia de cor as músicas de
Donna Summer-, começou a
sua coluna "Noite Ilustrada", alguns se indignaram.
No momento em que o país vivia um rebuliço intenso, o impeachment de Collor, o jornal
abria espaço para uma cultura
clubber importada de Londres
que cabia numa Kombi.
O tal mundinho [e o seu combustível, a música eletrônica" realmente nasceu pequeno, no Madame Satã, casa que viu o fim do
movimento punk, pulou para
uma casa da rua Augusta, Nation,
e se espremeu no Massivo, um sobrado apertado dos Jardins. No
entanto, ele brotava escondido
nas casas gays de São Paulo e, depois, a ferveção comeu solta no
Sra. Krawitz, Hell's e se profissionalizou, expandindo-se até por
boates da Franz Schubert, como
Biosfera e Limelight. O mundinho
virava mundão.
Erika afirma que foi a partir de
1996 que as expressões da noite [e
de sua coluna", como "basfond",
pularam as cercas do underground: "A cena clubber já faz
parte da vida das pessoas, não é
mais assuntinho. Agora, está em
todo lugar". Ela foi uma visionária
e pagou um preço. Sua coluna é
como polaróides. Seu fundamento, o MMC: moda, música e comportamento. Por dar destaque ao
movimento gay e colocar a foto de
uma drag, Márcia Pantera, logo
na terceira semana, ela recebeu
cartas de leitores reclamando da
difusão do homossexualismo.
"Eu era mais ou menos patrulhada. Mas, para mim, tudo aquilo
era tão espontâneo, legítimo e natural, eu nem percebia que escrevia de um jeito diferente."
Ela conta que até entre alguns
jornalistas sentia um clima desfavorável, para quem o termo clubber servia para pejorativamente
apontar os jovens fúteis e alienados, revivendo antiga mania de
tachar aqueles que fugiam de um
certo padrão de rebeldia. "Achavam que eu escrevia sobre um
modismo internacional, que estava sendo macaqueada. Outros
achavam que [a cena" não iria durar. Mas a noite estava forte."
Uma mensagem subliminar se
desenhava: são tempos conservadores, culpam-se os excessos,
acusam-nos pela criação da Aids,
nossa resposta é "não vamos parar". Nas entrelinhas de sua coluna, havia um movimento político
que lutava contra a intolerância e
propunha uma nova forma de se
manifestar dançando extravagantemente em festas.
Erika lembra que começou a coluna diferenciando o roteiro gay
do "straight". Com o tempo, derrubou esse muro: "A militância
gay era natural, não uma preocupação. Eu acreditava na explosão
do movimento, mas não imaginava a dimensão. A coluna servia
para frisar uma geração X, que
não tem cara e curte música sem
letra, sem manifesto".
E por que a onda que nasceu no
Reino Unido arrebentou tão forte
em praias do Brasil? "Os brasileiros adoram dançar, são supermusicais. Toca uma música, a gente
vai atrás. Carnaval não é assim? O
brasileiro tem paixão por música,
dança e sexo. E a cena aqui é mais
legal do que a de Londres, porque
as pessoas aqui são mais legais."
Parabéns, Erika, a musa do babado.
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