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Sertão de Rosa vai ao parque Ibirapuera
MARCELO PEN
CRÍTICO DA FOLHA
O sertão é aqui. Este é o recado que pretende passar o grupo
de contadores de "estórias" do
projeto Caminhos do Sertão,
que veio de Cordisburgo, MG,
com o propósito de transmitir a
prosa viva do escritor João Guimarães Rosa.
Assim defende o líder do grupo, José Osvaldo dos Santos,
54, vulgo mestre Brasinha.
"Viemos trazer o sertão a São
Paulo. Rosa disse que o sertão é
o mundo, mas cada vez mais me
convenço de que o mundo é o
sertão", explica, antes do início
da caminhada de cerca de duas
horas pelo parque Ibirapuera,
ocorrida ontem pela manhã,
durante a qual os contadores
exporiam o célebre conto "Recado do Morro".
Nada prejudicou o passeio.
Sob um sol forte, um conjunto
de algumas dezenas de pessoas
acompanhou o percurso literário durante as sete etapas do
trajeto. Se, no início, houve um
zunzum de apreensão e o grupo
saiu seguido de perto por dois
policiais de bicicleta, logo todos
pareciam imersos nas grutas,
riachos e chapadas do sertão
mineiro e na estória (como Rosa preferia grafar) de vingança e
deslumbramento que envolve
Pedro Orósio e sua trupe. No
fim, até mesmo os constantes
bramidos dos aviões que cortavam o parque acabaram aliciados à narrativa.
Apresentaram-se oito contadores, incluindo seu Brasinha.
Estão ligados à Associação dos
Amigos do Museu Casa de Guimarães Rosa, de Cordisburgo,
cidade-natal do autor. A maioria é de jovens na faixa dos 20 e
poucos anos. Alguns eram do
Grupo Miguilim, formado por
crianças e adolescentes que
contam estórias de Rosa.
É o caso de Mércia, 24, que
principiou a narração. Ela iniciou no mundo do autor de
"Grande Sertão: Veredas" aos
14 anos. Com um decênio de
atividade, Mércia afirma que o
mais duro não é decorar os longos trechos, mas "apresentar-se diante do público".
Os contadores são tímidos,
mas, no desfiar da fábula, transformam-se. Mestre Brasinha
explica que a linguagem e as
coisas do escritor lhes são familiares, daí o realismo que imprimem à cena. "A gente é a obra",
justifica. Assim como não há
ninguém melhor do que os ingleses para montar as peças de
Shakespeare, não há quem supere os cordisburguenses na
narração dos escritos de Rosa.
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