São Paulo, segunda-feira, 22 de maio de 2006

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Sertão de Rosa vai ao parque Ibirapuera

MARCELO PEN
CRÍTICO DA FOLHA

O sertão é aqui. Este é o recado que pretende passar o grupo de contadores de "estórias" do projeto Caminhos do Sertão, que veio de Cordisburgo, MG, com o propósito de transmitir a prosa viva do escritor João Guimarães Rosa.
Assim defende o líder do grupo, José Osvaldo dos Santos, 54, vulgo mestre Brasinha. "Viemos trazer o sertão a São Paulo. Rosa disse que o sertão é o mundo, mas cada vez mais me convenço de que o mundo é o sertão", explica, antes do início da caminhada de cerca de duas horas pelo parque Ibirapuera, ocorrida ontem pela manhã, durante a qual os contadores exporiam o célebre conto "Recado do Morro".
Nada prejudicou o passeio. Sob um sol forte, um conjunto de algumas dezenas de pessoas acompanhou o percurso literário durante as sete etapas do trajeto. Se, no início, houve um zunzum de apreensão e o grupo saiu seguido de perto por dois policiais de bicicleta, logo todos pareciam imersos nas grutas, riachos e chapadas do sertão mineiro e na estória (como Rosa preferia grafar) de vingança e deslumbramento que envolve Pedro Orósio e sua trupe. No fim, até mesmo os constantes bramidos dos aviões que cortavam o parque acabaram aliciados à narrativa.
Apresentaram-se oito contadores, incluindo seu Brasinha. Estão ligados à Associação dos Amigos do Museu Casa de Guimarães Rosa, de Cordisburgo, cidade-natal do autor. A maioria é de jovens na faixa dos 20 e poucos anos. Alguns eram do Grupo Miguilim, formado por crianças e adolescentes que contam estórias de Rosa.
É o caso de Mércia, 24, que principiou a narração. Ela iniciou no mundo do autor de "Grande Sertão: Veredas" aos 14 anos. Com um decênio de atividade, Mércia afirma que o mais duro não é decorar os longos trechos, mas "apresentar-se diante do público".
Os contadores são tímidos, mas, no desfiar da fábula, transformam-se. Mestre Brasinha explica que a linguagem e as coisas do escritor lhes são familiares, daí o realismo que imprimem à cena. "A gente é a obra", justifica. Assim como não há ninguém melhor do que os ingleses para montar as peças de Shakespeare, não há quem supere os cordisburguenses na narração dos escritos de Rosa.


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