São Paulo, segunda-feira, 22 de maio de 2006

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Cannes se emociona com Gena Rowlands

A uma platéia de celebridades, atriz americana lembra cinema dos anos 50

Ao lado do marido, o cineasta John Cassavetes, Rowlands fez filmes que redefiniram a história do cinema independente

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Nenhum filme exibido na competição do Festival de Cannes, pelo menos por enquanto, ofereceu a mesma dose de inteligência e emoção que a "master class" ministrada pela atriz Gena Rowlands, 75, na tarde da última sexta-feira na sala Buñuel do palácio do festival.
A seqüência inicial de "Opening Night" (1977), de seu marido e parceiro John Cassavetes (1929-1989), abriu os trabalhos. A sala estava lotada. O cineasta John Cameron Mitchell levou o elenco de seu filme, "Shortbus", para vê-la falar. Daniela Thomas, que divide os créditos com a atriz em "Paris Je T'Aime", que abriu a mostra Um Certo Olhar, também foi.
Durante 90 minutos, a atriz compartilhou impressões em torno de uma trajetória singular e revelou histórias saborosas sobre seus filmes.
Rowlands nasceu no conservador Wisconsin (EUA), em 1930. Neta de um senador, mudou-se para Nova York para estudar teatro quando tinha 20 anos: "Eram tempos fervilhantes. Não perderia Nova York nos anos 50 por nada", disse.
"Quando conheci Cassavetes estava havia pouco tempo em Nova York. Tinha sido tão difícil chegar lá e conseguir o pouco que havia conquistado... Naquele tempo, as mulheres que casavam e tinham filhos eram mulheres que casavam e tinham filhos. Eu me senti imensamente atraída por John, mas meu primeiro impulso foi manter distância. Depois de quatro meses, estávamos casados".
Foi um encontro feliz e eventualmente turbulento. Além de quatro filhos, os dois fizeram juntos nove filmes que redefiniram a história do cinema independente americano, como "Faces", "A Woman Under the Influence", "Gloria" e "Love Streams". Entre um e outro, algumas brigas em hotéis.
Rowlands não teve que parar de trabalhar. "Não percebi que o mundo estava mudando. Quando você está no meio da história, não se dá conta das transformações". Tampouco foi uma atriz à sombra do marido. Não é exagero dizer que era co-autora dos filmes dele.
"Quando nos conhecemos, havia o teatro e a TV ao vivo, que era uma delícia de fazer -pena que tenha durado tão pouco. O cinema não nos interessava. Para fazer parte desse negócio era preciso ir a três jantares de black-tie por semana, o que estava fora de questão".
Mas a possibilidade de fazer filmes baratos e intimistas levou Cassavetes a rodar "Shadows", em 1959. Em pouco tempo, eles estavam apaixonados pelo cinema também.


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