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Cannes se emociona com Gena Rowlands
A uma platéia de celebridades, atriz americana lembra cinema dos anos 50
Ao lado do marido, o cineasta John Cassavetes, Rowlands fez filmes que redefiniram a história do cinema independente
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Nenhum filme exibido na
competição do Festival de Cannes, pelo menos por enquanto,
ofereceu a mesma dose de inteligência e emoção que a "master class" ministrada pela atriz
Gena Rowlands, 75, na tarde da
última sexta-feira na sala Buñuel do palácio do festival.
A seqüência inicial de "Opening Night" (1977), de seu marido e parceiro John Cassavetes (1929-1989), abriu os trabalhos. A sala estava lotada. O cineasta John Cameron Mitchell
levou o elenco de seu filme,
"Shortbus", para vê-la falar.
Daniela Thomas, que divide os
créditos com a atriz em "Paris
Je T'Aime", que abriu a mostra
Um Certo Olhar, também foi.
Durante 90 minutos, a atriz
compartilhou impressões em
torno de uma trajetória singular e revelou histórias saborosas sobre seus filmes.
Rowlands nasceu no conservador Wisconsin (EUA), em
1930. Neta de um senador, mudou-se para Nova York para estudar teatro quando tinha 20
anos: "Eram tempos fervilhantes. Não perderia Nova York
nos anos 50 por nada", disse.
"Quando conheci Cassavetes
estava havia pouco tempo em
Nova York. Tinha sido tão difícil chegar lá e conseguir o pouco que havia conquistado... Naquele tempo, as mulheres que
casavam e tinham filhos eram
mulheres que casavam e tinham filhos. Eu me senti imensamente atraída por John, mas
meu primeiro impulso foi manter distância. Depois de quatro
meses, estávamos casados".
Foi um encontro feliz e eventualmente turbulento. Além de
quatro filhos, os dois fizeram
juntos nove filmes que redefiniram a história do cinema independente americano, como
"Faces", "A Woman Under the
Influence", "Gloria" e "Love
Streams". Entre um e outro, algumas brigas em hotéis.
Rowlands não teve que parar
de trabalhar. "Não percebi que
o mundo estava mudando.
Quando você está no meio da
história, não se dá conta das
transformações". Tampouco
foi uma atriz à sombra do marido. Não é exagero dizer que era
co-autora dos filmes dele.
"Quando nos conhecemos,
havia o teatro e a TV ao vivo,
que era uma delícia de fazer
-pena que tenha durado tão
pouco. O cinema não nos interessava. Para fazer parte desse
negócio era preciso ir a três jantares de black-tie por semana, o
que estava fora de questão".
Mas a possibilidade de fazer
filmes baratos e intimistas levou Cassavetes a rodar "Shadows", em 1959. Em pouco tempo, eles estavam apaixonados pelo cinema também.
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