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Nostalgia marca os curtas de "Chacun Son Cinéma"
AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES
Cannes celebra seus 60 anos
com um filme de episódios produzido pelo presidente do festival, Gilles Jacob, tendo por tema a sala de cinema. Dedicado
a Fellini, "Chacun Son Cinéma"
reúne 33 curtas de três minutos. O tom dominante é a nostalgia frente ao espetáculo cinematográfico. O resultado é
envolvente, com apenas três
episódios constrangedores
(Chahine, Cimino e Gitai). Para
equilibrar, também três curtas
pairam acima da média.
Walter Salles assina um dos
momentos mais certeiros. Seu
episódio, "A 8.944 km de Cannes", registra em plano único,
defronte a uma sala popular em
Miguel Pereira (RJ), um desafio repentista sobre o festival
entre Castanha e Caju. Tem
bossa, inteligência e ironia.
Batizado de "Três Minutos",
o grego Theo Angelopoulos restabelece um diálogo, em chave
fantasmagórica, entre Jeanne
Moreau e Marcelo Mastroianni. Ela, no presente, repete um
monólogo sobre a relação deles
extraído de "A Noite" (1961), de
Antonioni. Ele, no passado,
surge numa cena de "O Apicultor" (1986), do próprio Angelopoulos. Sublime.
Outro diálogo fílmico, entre
"A Paixão de Joana D'Arc"
(1928), de Dreyer, e "Viver a Vida" (1962), de Godard, está ao
centro de "Duas Vezes Artaud"
de Atom Egoyan. Contrapõem-se a grande tela de ontem e as
pequenas telas dos celulares.
De todos, o episódio mais contemporâneo e investigativo.
Os demais curtas se dividem
em sete grandes grupos. O principal, com seis episódios, reúne
pequenos filmes sobre a memória e a decadência das salas
(Cronenberg, Hou Hsiao-Hsien, Konchalovsky, Loach,
Moretti, Tsai Ming-Liang).
Cinco curtas saúdam o cinema
como catalisador amoroso (August, Kiarostami, Lelouch, Van
Sant, Wong Kar-wai). Quatro
episódios (Depardon, Kaurismaki, Wenders, Yimou) celebram a resistência do cinema
em salas improvisadas. A cegueira como metáfora marca os
curtas de Chen Kaige, Inãrritu
e Ruiz. Dois filmes (Assayas e
Dardenne) partem de furtos de
bolsa para paradoxalmente discutir relações. O ódio aos críticos irmana os curtas de Youssef
Chahine e Lars von Trier.
Por fim, a idéia do filme-gag
aproxima as propostas de Jane
Campion (em chave onírico-feminista), Joel e Ethan Coen,
Takeshi Kitano, Manoel de Oliveira (o único distante do tema
da encomenda), Roman Polanski e Elia Suleiman. Contas
feitas, "Chacun" supera as expectativas e transcende a efeméride. Ponto para Jacob.
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