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crítica
Bressane faz paródia de Hollywood
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Em uma das primeiras imagens de
"Cleópatra", Julio
Bressane compõe um plano que se transforma e
inaugura o sentido de sua
abordagem aparentemente anacrônica da personagem: em close, vê-se uma
vagina depilada e sobre a
qual, em tinta negra, se
destaca a forma de um
triângulo. Ao girar, o órgão
sexual converte-se na forma de uma pirâmide.
Assim, o filme concentra a força do cinema de
Bressane, ao fazer aproximar e coincidir, sem nem
mesmo precisar justapor
duas imagens, o tema da
tirania, que se impõe em
duas formas: o desejo e o
poder político.
A utopia de Bressane é
fazer os dois exercícios de
domínio se equilibrarem
numa justa imagem, mediada pela sedução. E é a
isto que ele se entrega ao
se concentrar na triangulação que seu relato constrói a partir das personagens da rainha egípcia e
seus pares romanos, Julio
César e Marco Antônio.
A escolha da grande personagem integra um percurso que Bressane vem
fazendo pelo menos desde
"Tabu" (1982) e, mais recentemente, com as figuras do padre Antônio Vieira, São Jerônimo e Nietzsche, que consiste em se
apropriar dos clichês biográficos e inseri-los numa
outra ordem, tanto mais
infiel à "verdade" histórica
quanto mais estimulante a
seu "cinema de invenção".
No plano erudito, do
qual o espectador só consegue se aproximar pelo
ouvido sem desvendar os
segredos, a Cleópatra
bressaniana é uma experimentação do mito pelos
textos, na qual as falas e as
dicções metamorfoseiam
o Egito em um espaço do
império lusitano.
No plano popular, de
mais imediata decodificação, "Cleópatra" brinca
com os clichês hollywoodianos. Ao usar o Rio como
cenário egípcio, parodia a
versão faraônica com Elizabeth Taylor que levou o
estúdio à falência. Ao escalar os globais Alessandra
Negrini, Miguel Falabella
e Bruno Garcia para os papéis centrais ironiza esta
outra Holywood, bem nossa e bem próxima.
CLEÓPATRA
Produção: Brasil, 2007
Direção: Julio Bressane
Com: Alessandra Negrini, Miguel Falabella, Bruno Garcia
Onde: no Cine Bombril e Unibanco Arteplex; classificação: 18 anos
Avaliação: bom
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