São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 2008

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"Continuo um otimista", diz Zuenir

Autor nega em debate na Folha que exista melancolia em "1968 - O que Fizemos de Nós" na comparação com livro de 20 anos atrás

Renato Janine Ribeiro diz que protagonistas de 68 dão, hoje, a impressão de que "tudo o que havia para ser feito já foi feito"

DA REPORTAGEM LOCAL

O professor de ética e filosofia política da USP Renato Janine Ribeiro veio com a provocação: "Zuenir, achei seu livro novo um tanto melancólico". Foi a deixa para o jornalista Zuenir Ventura, que acaba de lançar "1968 - O que Fizemos de Nós" (Planeta), rebater: "Continuo um otimista incorrigível".
Foi entre dois extremos de interpretação sobre o ano bissexto que se tornou sinônimo da rebeldia juvenil que transcorreu o debate realizado na última terça no auditório da Folha. Integraram a mesa ainda os jornalistas Roberto D'Ávila e Mário Magalhães (mediador).
Para Zuenir Ventura, ainda é um mistério aquela "sincronia" que fez com que em um mesmo ano, em países diferentes como França, EUA, Tchecoslováquia e Brasil, os jovens deixassem o cabelo crescer, ouvissem as mesmas músicas, desconfiassem de todos com mais de 30. "1968 não desaparece e é lembrado como se fosse uma pessoa porque foi um ano com um caráter, dado pela rebeldia generalizada naquele momento."
Segundo o professor Renato Janine, "a menina poder transar com o namorado na casa dos próprios pais tem a ver com o legado de 1968. Como também tem a ver, claro, a perda do recato -o piercing nos órgãos genitais, por exemplo".
"1968 - O que Fizemos de Nós" é continuação de "1968 -0O Ano que Não Terminou", do mesmo Zuenir, lançado há 20 anos (os dois livros são comercializados juntos, ao preço médio de R$ 75).
Janine vê uma nota de melancolia nos depoimentos dos "meia-oitos" entrevistados por Zuenir no livro recente, em oposição à "vida" que aparecia no de 20 anos atrás. "Achei o segundo livro pesado. No primeiro, as pessoas que fizeram 1968 ainda eram jovens, cheias de vida, a coisa toda era muito viva. Em 2008, parece que tudo o que havia para ser feito já foi feito. Os protagonistas de 68 dão a impressão, hoje, de que aquilo tudo foi arrematado."
O jornalista Roberto D'Ávila discordou. Lembrou um almoço que teve um dia antes do ataque às Torres Gêmeas, no 11 de Setembro, com o arquiteto Oscar Niemeyer. "Eu reclamava de que nada mais acontecia, que estava tudo chato. E, no dia seguinte, no entanto..." Segundo D'Ávila, "nada foi arrematado, e morreu aquele papo de que a história acabou".

"Desdobramentos vivos"
Zuenir Ventura disse ter ficado "chocado" ao escutar que seu livro poderia ser lido por um registro melancólico. Segundo ele, os movimentos feminista, negro, homossexual e ambientalista são desdobramentos vivos de 1968.
"São movimentos diferentes de 1968? São. Em 1968, a questão gay, por exemplo, não tinha nem sequer saído do armário", disse Zuenir. A diferença, paradoxalmente, é que aproxima os movimentos, já que 1968 foi o ano em que se consagrou o princípio libertário, que implica o respeito ao diferente (lembre-se do "É Proibido Proibir"). "É como disse o Caetano [Veloso], quando questionei se 1968 poderia ocorrer de novo: "Para ser parecido, tem de ser completamente diferente"."
"Eu não acho que só tenha restado aquela coisa "carpe diem", do êxtase imediato, do ecstasy nas raves", afirmou.


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