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Crítica/"Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal"
"Indiana" é Armani da aventura contemporânea
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Indiana Jones está de volta, e com certeza não faltaremos ao encontro: um
grande evento, com ingressos
vendidos antecipadamente, o
retorno de um personagem
marcante, projeção em Cannes
e muito bumbo batendo em todos os cantos.
Convém, no entanto, não
contar com muito. O que "Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal" entrega é, em linhas gerais, mais do mesmo.
Porque o cinema que Steven
Spielberg ajudou a criar é feito
de marcas. Indiana é uma das
mais fortes: um tipo de Armani
da aventura contemporânea.
Se formos pensar em termos
de estrito divertimento de fim
de semana, o novo Indiana não
decepciona. Depois de 19 anos,
mantém a forma (física) admiravelmente. E como nesse meio
tempo esquecemos da maior
parte de seus feitos antigos, não
custa retomá-los.
No entanto, é bom saber de
duas ou três coisas para não alimentar expectativas demais.
"O Reino da Caveira de Cristal"
retorna aos cenários exóticos, e
não faltam ao encontro nem as
cobras, nem os abismos de
sempre. Não faltam crânios
(tudo gira em torno de uma caveira, afinal), nem macacos.
Espião comunista
Como se quisesse se prevenir
da possibilidade de ser chamado de ultrapassado, Indiana
desta vez é menos reflexivo do
que no terceiro exemplar,
quando o herói ganhou um pai
(na pessoa de Sean Connery).
Desta vez ele ficará sabendo,
ao contrário, que tem um filho.
No mais, há também mudança no quadro político que serve
de pano de fundo. Desta vez, estamos nos anos 50 do século 20
e os perigos a enfrentar são o
comunismo (na pessoa da
agente Cate Blanchett) e o macarthismo, este último no início do filme. Aliás é o que o filme tem de mais original: Indiana suspeito de ser espião comunista aos olhos do FBI. Mas logo a ação desvia-se para a selva
da Amazônia, onde Indiana se
mete com o jovem Mutt (Shia
LaBeouf), em busca dos traços
de uma civilização extinta, a
mesma que teria abrigado o El
Dorado dos espanhóis.
Para resumir, o El Dorado
aqui seria uma civilização visitada por seres extraterrestres.
E, de passagem, Spielberg nos
oferece aqui uma espécie de resumo do cinema de aventura
dos anos 50, especialmente o
de ficção científica: de vampiros de almas a deuses astronautas, de formigas devoradoras a
Tarzã, temos de tudo um pouco. Isso garante um tanto de variação ao filme, que reitera, no
entanto, o espírito de seriado
que garantiu o sucesso do herói
no passado.
Indiana continua, no fundo, a
criança que sempre habitou o
arqueólogo.
INDIANA JONES E O REINO DA CAVEIRA DE CRISTAL
Produção: EUA, 2008
Direção: Steven Spielberg
Com: Harrison Ford, Karen Allen e Cate Blanchett
Onde: estréia hoje nos cines Bristol,
TAM, UOL Lumière e circuito; classificação: 10 anos
Avaliação: regular
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