São Paulo, quinta, 22 de maio de 1997.



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POESIA
Cantora interpreta poemas no lançamento do livro 'Pequeno Oratório...' hoje no Rio
Bethânia lê obra de Neide Archanjo

ALVARO MACHADO
especial para a Folha

Portugueses de fino trato já afirmaram que Maria Bethânia lhes revelou o espírito mais genuíno de Fernando Pessoa -como nos poemas ditos em seu último álbum, "Imitação da Vida".
Porém há um outro lado desse interesse da intérprete por poesia que poderá ser melhor conhecido hoje, quando Bethânia comparece à Biblioteca Nacional, no Rio, para interpretar o "Pequeno Oratório do Poeta para o Anjo", mais recente produção da poeta paulistana Neide Archanjo.
Esse recital, sob a batuta da diretora teatral Bia Lessa, marca o lançamento nacional do livro, que chega ao leitor em embalagem requintada: acompanhado de CD no qual Bethânia lê poemas e ilustrado pela pintora paulista Lucila Sartori.
Em São Paulo o lançamento será no dia 17 de junho, no teatro Maria Della Costa, com outras afinidades eletivas da autora: Regina Duarte será a intérprete, sob direção da artista plástica Denise Millan.
Em ambos os eventos estarão expostos os quatro dípticos em óleo sobre tela de Sartori, que acompanham a temática do livro com "anunciações angélicas" em cores rebaixadas e folhas de ouro.
Atualmente radicada no Rio, Neide Archanjo estreou em poesia em 1964, com "Primeiros Ofícios da Memória". Tem outros sete livros publicados em várias editoras, premiação da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) em 80 e indicação para o prêmio Jabuti em 95 ("Tudo é Sempre Agora", ed. Maltese).
Assessora do Departamento Nacional do Livro, Neide Archanjo é bastante atuante em mesas-redondas e apresentações de poesia em todo o Brasil, dentro de um panorama recente que se configura quase como um movimento informal de revitalização da produção e amostragem poéticas.
Entusiasta do contato direto com o público, que ela se refere como "opção política", criou nos anos 69/70 os "Varais de Poesia" e o movimento "Poesia na Praça", com os poetas Ilka Brunhilde, José Luís Archanjo, Álvaro de Farias e outros.
Na feira hippie da Praça da República e em cafés do centro de São Paulo pendurava-se e declamava poemas sobre fatos acontecidos na véspera.
Drummond
Archanjo pertence à vigorosa família poética feminina de Hilda Hilst, Renata Pallotini, Mariajosé de Carvalho, Dora Ferreira da Silva e outras autoras paulistas.
Carlos Drummond de Andrade, que tinha por elas grande admiração, escreveu para Archanjo: "Você alcança a justa e vibrante expressão que deixa marca no leitor".
"Pequeno Oratório..." tem influência explícita de Rilke, que com Jorge de Lima e Saint-John Perse está entre os autores preferidos da poeta.
Conforme o plano original da autora, o livro chega com o encarte de CD, papel e ilustrações especiais, e por isso foi produzido de forma independente.
"Pequeno Oratório..." terá uma tiragem de 3.000 exemplares e distribuição comercial pela Tempo (tel. 011/240-1027).
Os 16 poemas falam, segundo Archanjo, sobre "a visitação, a presença da musa, ou da beleza, que é sempre 'pré-ante-perdida'. O que fica é a poesia que relata essa aparição e o clamor da perda".
Os títulos dos poemas são haicais que, em sua sequência, configuram um poema em movimento.
Compõem-se de afirmações que vão se metamorfoseando por meio de seus contrários: "Era quimera/ e parecia ser o amor./ Era quimera."
Para a autora, "o êxtase da visitação é como um diamante bruto que deve ser lapidado, ou revelado, em seus diversos prismas, até a catarse do poema, da obra".

Livro: Pequeno Oratório do Poeta para o Anjo, de Neide Archanjo (60 págs.)
Lançamento: hoje, às 18h, na Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro (av. Rio Branco, 219, tel. 021/262-8255)
Quanto: R$ 25, incluindo encarte com CD
Distribuição: Tempo (tel. 011/240-1027)





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