São Paulo, sexta, 22 de maio de 1998

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MÚSICA
Franco Scornavacca, que já vendeu 30 milhões de discos com duas duplas, é responsável pelo estouro de Leandro & Leonardo
"Midas' sertanejo fala sobre caso Leandro

LUÍS PEREZ
da Reportagem Local

Franco Scornavacca, 49, foi cantor. Mas, de dez anos para cá, é um dos empresários mais bem-sucedidos do showbiz brasileiro -vendeu mais de 30 milhões de discos com duas duplas sertanejas.
Espécie de midas do gênero, é o responsável por ter feito de Leandro & Leonardo o maior fenômeno da indústria fonográfica brasileira -"Pense em Mim" (1990) já vendeu 3,2 milhões.
Agora espera bater o recorde de Zezé Di Camargo & Luciano -com quem está desde o início da carreira, em 90-, que pode chegar a 2 milhões de cópias.
A amizade com Leandro e Leonardo, os ex-plantadores de tomates que enfrentam o drama de um câncer no pulmão do dono da segunda voz, dura dez anos.
"Foi Leandro & Leonardo que me deu o que tenho nesse meio", diz Franco, que os deixou há cinco anos. "Não houve briga. Terminou como um casamento. Sinto que eles queriam caminhar com suas próprias pernas."
Ele faz o estilo "paizão" -a ponto de Leandro, anos atrás, ter ido descansar em seu escritório depois de fazer uma plástica para tirar marcas do rosto.
Franco admite que os dois "pecaram" depois que o deixaram -do CD mais recente saíram com pouco mais de 350 mil cópias. "Poderiam ter ousado mais." A seguir, trechos da entrevista.

Folha - Qual o segredo para vender mais de 30 milhões de discos?
Franco Scornavacca -
Como em todo trabalho, o fundamental é ter disposição, buscar um bom repertório e uma gravadora que tenha disposição em investir no produto.
Folha - Não deprime o artista achar que está perdendo público? Como pode ter acontecido com Leandro & Leonardo?
Franco -
Mas isso não é perder. Você tem picos em qualquer carreira. Nessa atividade, em que se mexe com a emoção, você não vende nada palpável.
A vendagem expressa a preferência musical naquele momento, a bola da vez. Cada momento tem uma bola da vez.
Hoje existe uma coisa muito forte com o Só Pra Contrariar. O que acontece? São momentos do mercado, que está sempre em movimento. Amanhã virá outro.
Essa bola da vez não pode ser só e unicamente a bola da vez. Tem que fazer com que o artista mantenha a uniformidade nesse mercado.
Quem decide a bola da vez é quem acerta na mosca. As gravadoras sempre estão dispostas quando vislumbram que está vindo uma coisa legal para elas.
Essa é uma grande preocupação nossa (como empresário da dupla Zezé Di Camargo & Luciano), de manutenção. O importante é sustentar a bola da vez. E é o que Leandro & Leonardo tem conseguido.
Folha - Mesmo tendo vendido 3 milhões em 90 e o disco anterior ter saído com 400 mil cópias?
Franco -
Mas temos que perguntar a quem é de direito o que estava sendo feito pela gravadora deles, se estava havendo um investimento para impulsionar. Nessa história toda, talvez não sejam eles os culpados por terem vendido meio milhão de discos.
Mas eles têm, seguramente, um público comprador, se acertar o repertório, de 1 milhão. Dou minha vida por isso.
Folha - Você teria feito diferente do que eles fizeram?
Franco -
Teria. Eu teria gravado outra coisa. Acho que, se a pessoa mantém a mesma fórmula, não conquista público.
O artista tem de estar sempre atento para perceber, a cada disco, que do ano passado para este ano é preciso somar um público novo que não estava, mas que a partir deste ano fará parte do rebanho.
Folha - É por isso que o Zezé faz música com o Carlinhos Brown?
Franco -
É por isso que faz com Carlinhos Brown, por isso que faz música falando do lado social do país. Por isso que ele não fica em cima do muro. Por isso que conquista um público maior.
Acho que Leandro & Leonardo pecaram. Poderiam ter se atrevido um pouco mais, se aproximado um pouco mais do popular, da MPB e do social.
Folha - Você mantém a amizade com a dupla há dez anos. Como está o Leandro?
Franco -
Outro dia encontrei o Leonardo no aeroporto e ele estava extremamente animado com o estado do irmão. Claro que é um caso grave. Só quem viveu, como vivi há alguns meses, um problema de saúde sabe o quanto isso mexe com a gente.
Folha - Bem no início do caso, antes de o Leandro viajar para os EUA, surgiram boatos de que a doença era uma forma de chamar a atenção, fazer autopromoção. O que você acha disso?
Franco -
Qualquer pessoa que tiver QI acima de uma ostra jamais iria achar uma coisa dessas. Imagina que o Leandro ia se submeter a uma palhaçada dessas, com a saúde dele. É uma idiotice.
Folha - Você sabe algo sobre o novo disco?
Franco -
Ouvi muita coisa. Está muito bom. O César Augusto, que era o produtor na minha época, retomou o trabalho com eles.
Acho que vai ser um grande sucesso. O reencontro com o César fez com que eu me lembrasse do Leandro & Leonardo de antes.



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