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CRÍTICA
Filme é drama ético em terra devastada
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
"Meu nome é Joe e estou
há cento e tantos dias
sem beber." Com essa frase, dita
numa reunião dos Alcoólicos
Anônimos, começa o filme de
Ken Loach.
Mas, ao contrário do clássico
"Farrapo Humano" (1945), de
Billy Wilder -outro grande filme
centrado na vida de um alcoólatra-, "Meu Nome É Joe" não vai
mostrar de que modo a relação do
protagonista com a bebida determina sua relação com o mundo, e
sim o oposto.
Vivendo do seguro-desemprego e de pequenos bicos para sobreviver num bairro operário de
Glasgow (Escócia), Joe (Peter Mullan) é um dos personagens mais
pungentes do cinema contemporâneo. O filme, em resumo, é sua
odisséia cotidiana para exercer
sua liberdade e sua integridade
num mundo em que tudo conspira contra.
O primeiro achado de Ken
Loach e seu roteirista Paul Laverty
é este: em vez de apresentar seu
personagem como uma vítima de
quem sentimos pena, eles põem
em cena um homem cheio de
energia e revolta, que resiste com
unhas e dentes a deixar de ser
gente.
A segunda opção engenhosa do
filme é fazer de Joe, como treinador de um time de futebol amador, um catalisador de destinos
igualmente trágicos. Desempregados, bêbados, drogados, pequenos marginais: todos têm seu momento de graça (em todos os sentidos da palavra) ao correr atrás
de uma bola num campo enlameado.
A margem deixada para a vida e
para a beleza é muito estreita nas
periferias da sociedade globalizada. Mais estreito ainda é o espaço
para a conduta moral. E o escopo
de "Meu Nome É Joe" é basicamente moral: trata-se de investigar de que maneira o sentimento
ético do indivíduo reage às condições mais adversas de temperatura e pressão.
No meio de tudo há uma história de amor, entre Joe e Sara, uma
madura e vivida assistente social
(Louise Goodall). Seu desencontrado romance ajuda-nos a ver
Joe por inteiro. Além disso, a entrada em cena de Sara coloca em
relevo os limites da ação humanitária num quadro social intrinsecamente desumano.
Mas, se as palavras de Ken
Loach na entrevista acima podem
soar como um discurso anacrônico nesta época de esvaziamento
da política, seu filme não tem nada de panfletário ou proselitista.
Sua força está em mostrar, com
uma câmera escrupulosamente
discreta e eficiente, uma terra devastada e trazer para o primeiro
plano um punhado de indivíduos
singulares.
Se os "milhões de desempregados" são apenas números, cada
um dos personagens de "Meu Nome É Joe" -do gângster de quarteirão à jovem que se prostitui por
um punhado de drogas- é um
ser complexo, imprevisível, cheio
de arestas. Em cada um deles pulsa a vontade de viver e brilhar, por
mais que os paralise o medo da
miséria e da morte. Encenar esses
dramas como quem filma um documentário é o grande mérito de
Ken Loach.
"Meu Nome É Joe" retira os "excluídos" dos discursos políticos e
das estatísticas e joga-os na tela,
obrigando-nos a conviver com
eles por um par de horas. Bom divertimento.
(JGC)
Meu Nome É Joe
My Name Is Joe
Produção: Grã-Bretanha, 1998
Direção: Ken Loach
Com: Peter Mullan, Louise Goodall
Quando: a partir de hoje no cine Top
Cine 1
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