São Paulo, sexta-feira, 22 de junho de 2001

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"Não deixei a Miramax mudar "Caminho sem Volta'", diz diretor

LÚCIO RIBEIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Estréia em São Paulo, finalmente, "Caminho sem Volta" ("The Yards"). Duas vezes finalmente. Primeiro porque o filme é falado (mal) desde o Festival de Cannes do ano passado. Depois, porque já é visto no Rio de Janeiro há algumas semanas.
"Caminho sem Volta", que traz no elenco atores de velha (Faye Dunaway, James Caan) e nova (Mark Wahlberg, Charlize Theron, Joaquin Phoenix) gerações em uma drama sobre Máfia, é o aguardado segundo trabalho do talentoso diretor nova-iorquino James Gray, 31, de "Fuga para Odessa" (1996, no Brasil).
De Nova York, Gray falou à Folha sobre "Caminho sem Volta", a repercussão negativa em Cannes, sua aproximação ao "O Poderoso Chefão" e como fez do filme uma ópera.

Folha - "Caminho sem Volta" já foi elogiado pela crítica americana por seu jeito Coppola de contar secamente uma história de crimes sem fazer dela um show de tiros e explosões. Por outro lado, o filme não teve uma boa repercussão em Cannes. Acharam arrastado. E o que você fala sobre tudo isso?
James Gray -
Essa aproximação de meu filme com o nome de Coppola ocorre por causa de "O Poderoso Chefão". Mas a única coisa que eu acho parecida entre os filmes é que os dois têm Máfia na história. E abordam complicadas questões de família. Honra-me ser comparado a Coppola. Mas acho que a semelhança fica só aí.
Quanto a Cannes, botaram meu filme por último. Os críticos assistiram a seis filmes no dia. E só aí viram o meu, no final de um destes. Era insano mesmo. Não os culpo de achar cansativo.

Folha - É verdade que a Miramax não queria mais lançar o filme depois que ele ficou pronto?
Gray -
Foi. Não estavam seguros com o final do filme. Acharam triste demais. Sugeriram até de eu mudá-lo, mas não concordei. Entendo o lado deles. O filme tem alguns nomes de peso e custou US$ 20 milhões. É um dinheiro considerável. Mas não concordei.

Folha - Pelo clima do filme e pelo desenvolvimento de sua história, "Caminho sem Volta" é considerado uma ópera. É uma?
Gray -
"Caminho sem Volta" é operístico no sentido em que a música é quase um personagem na dramatização. Fora isso, tive a ambição de dar um tom operístico ao filme para acentuar essa força da sociedade, essa pressão do meio influenciando no comportamento do personagem, no que ele sente. Essa força, essa pressão é exercida pela música. Como se, quando um personagem estivesse andando numa rua, uma música bem colocada fizesse ele tomar uma direção contrária. Fez sentido?

Folha - Você escalou três bons e relativamente novos atores para o filme. Mas todos eles têm uma certa aura de "malditos", por causa do início da carreira deles: Mark (cantor de boys band), Joaquin (a sombra do irmão, River Phoenix) e Charlize (rostinho bonito). Como foi trabalhar com eles e como você avalia o resultado final?
Gray -
São ótimos atores. Trabalhar com eles foi diferente do que com, por exemplo, Faye Dunaway, James Caan, Ellen Burstyn, atores já formados. Com os atores mais velhos, você não precisa ser específico. Eles estão prontos. O bom é que Mark, Charlize e Joaquin não têm aquela postura formal de ator consagrado. Com os mais novos, você tem de explicar bem o que quer. Eu expliquei, e eles fizeram tudo certo na primeira. Todos os três superaram minha expectativa.


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