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"Não deixei a Miramax mudar "Caminho sem Volta'", diz diretor
LÚCIO RIBEIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Estréia em São Paulo, finalmente, "Caminho sem Volta" ("The
Yards"). Duas vezes finalmente.
Primeiro porque o filme é falado
(mal) desde o Festival de Cannes
do ano passado. Depois, porque
já é visto no Rio de Janeiro há algumas semanas.
"Caminho sem Volta", que traz
no elenco atores de velha (Faye
Dunaway, James Caan) e nova
(Mark Wahlberg, Charlize Theron, Joaquin Phoenix) gerações
em uma drama sobre Máfia, é o
aguardado segundo trabalho do
talentoso diretor nova-iorquino
James Gray, 31, de "Fuga para
Odessa" (1996, no Brasil).
De Nova York, Gray falou à Folha sobre "Caminho sem Volta", a
repercussão negativa em Cannes,
sua aproximação ao "O Poderoso
Chefão" e como fez do filme uma
ópera.
Folha - "Caminho sem Volta" já
foi elogiado pela crítica americana
por seu jeito Coppola de contar secamente uma história de crimes
sem fazer dela um show de tiros e
explosões. Por outro lado, o filme
não teve uma boa repercussão em
Cannes. Acharam arrastado. E o
que você fala sobre tudo isso?
James Gray - Essa aproximação
de meu filme com o nome de
Coppola ocorre por causa de "O
Poderoso Chefão". Mas a única
coisa que eu acho parecida entre
os filmes é que os dois têm Máfia
na história. E abordam complicadas questões de família. Honra-me ser comparado a Coppola.
Mas acho que a semelhança fica
só aí.
Quanto a Cannes, botaram meu
filme por último. Os críticos assistiram a seis filmes no dia. E só aí
viram o meu, no final de um destes. Era insano mesmo. Não os
culpo de achar cansativo.
Folha - É verdade que a Miramax
não queria mais lançar o filme depois que ele ficou pronto?
Gray - Foi. Não estavam seguros
com o final do filme. Acharam
triste demais. Sugeriram até de eu
mudá-lo, mas não concordei. Entendo o lado deles. O filme tem alguns nomes de peso e custou US$
20 milhões. É um dinheiro considerável. Mas não concordei.
Folha - Pelo clima do filme e pelo
desenvolvimento de sua história,
"Caminho sem Volta" é considerado uma ópera. É uma?
Gray - "Caminho sem Volta" é
operístico no sentido em que a
música é quase um personagem
na dramatização. Fora isso, tive a
ambição de dar um tom operístico ao filme para acentuar essa força da sociedade, essa pressão do
meio influenciando no comportamento do personagem, no que
ele sente. Essa força, essa pressão
é exercida pela música. Como se,
quando um personagem estivesse
andando numa rua, uma música
bem colocada fizesse ele tomar
uma direção contrária. Fez sentido?
Folha - Você escalou três bons e
relativamente novos atores para o
filme. Mas todos eles têm uma certa aura de "malditos", por causa do
início da carreira deles: Mark (cantor de boys band), Joaquin (a sombra do irmão, River Phoenix) e
Charlize (rostinho bonito). Como
foi trabalhar com eles e como você
avalia o resultado final?
Gray - São ótimos atores. Trabalhar com eles foi diferente do que
com, por exemplo, Faye Dunaway, James Caan, Ellen Burstyn,
atores já formados. Com os atores
mais velhos, você não precisa ser
específico. Eles estão prontos. O
bom é que Mark, Charlize e Joaquin não têm aquela postura formal de ator consagrado. Com os
mais novos, você tem de explicar
bem o que quer. Eu expliquei, e
eles fizeram tudo certo na primeira. Todos os três superaram minha expectativa.
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