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ARTES PLÁSTICAS
Vinte esboços do pintor espanhol serão vendidos pela documentarista e poeta Genevieve Laporte dia 27
Amante de Picasso leiloa "traços da paixão"
ANGELA DOLAND
ASSOCIATED PRESS, EM PARIS
Quase todos os amores de Pablo
Picasso tiveram fins trágicos. Marie-Therese Walter se enforcou.
Jacqueline Roche se matou com
um tiro na têmpora. E Dora Maar
se tornou reclusa, morrendo pobre e solitária. Assim, é uma surpresa conhecer a ensolarada Genevieve Laporte, 79. Ela sobreviveu a Picasso e tornou-se poeta e
documentarista premiada.
Quando tinha 24 anos, Laporte
iniciou um caso secreto de dois
anos de duração com o mestre,
então com 70 anos. Bela, ela era
ex-combatente da resistência, e
Picasso a desenhou muitas vezes:
nua na cama, em um vestido de
casamento fantasioso, usando
uma blusa de marinheiro.
Em 27 de junho, Laporte venderá 20 dos esboços de Picasso, em
Paris. Estima-se que valham entre
1,5 milhão de euros e 2 milhões de
euros (entre R$ 4,34 milhões e R$
5,79 milhões), e eles mostram um
lado terno e apaixonado do gênio.
Laporte conheceu o pintor
quando tinha 17 anos e recebeu a
incumbência de entrevistá-lo para o jornal da escola. Uma amizade incomum nasceu entre eles. Os
dois tomavam chocolate quente e
Picasso recomendava livros a Laporte. Era um relacionamento
inocente -pelo menos da parte
dela. "Eu era completamente ingênua", destacou Laporte. "Ele
me disse mais tarde que eu nem
imaginava o quanto ele queria
acariciar meu cabelo, mas não tinha coragem. Ele tinha idade para
ser meu avô! Se ele tivesse feito isso, eu teria fugido".
Sete anos mais tarde, depois de
ela ter passado algum tempo nos
EUA e ter começado a trabalhar,
Laporte visitou Picasso no apartamento dele. "Eu disse que precisava ir para casa. E exatamente naquele momento, juro, foi como
um conto de fadas", diz. "A sala
escureceu e pela clarabóia eu vi
um céu como nunca tinha visto, a
não ser no Congo durante as tempestades tropicais. Ele me disse
para esperar um pouco, porque
um temporal estava começando...
E, um estrondo: relâmpago, trovão, granizo". E a seguir? "Não me
lembro do que aconteceu depois",
diz ela, modestamente.
Os dois mantiveram um caso
enquanto Picasso vivia com a pintora François Gilot. Mãe de dois
dos filhos de Picasso, Gilot foi outra das raras mulheres que deixou
o pintor no lugar de sofrer. Picasso se separou temporariamente
de Gilot no verão de 1951, para
passar férias em St. Tropez com
Laporte, o poeta Paul Éluard e a
mulher deste, Dominique.
Muitos desenhos feitos no período portam a inscrição "para
Genevieve". Quando o museu
Hermitage, de São Petersburgo,
exibiu os desenhos, classificou-os
como "período Genevieve" ou
"período terno" do pintor.
Picasso pediu que Laporte fosse
morar com ele, dois anos depois.
Gilot acabara de deixá-lo e Picasso queria que ela vivesse na casa
que havia dividido com a pintora
na Riviera francesa. "A ex-namorada dele parte uma manhã e ele
me convida para me mudar para a
mesma casa no dia seguinte",
conta. "Qualquer lugar, mas não
lá!". Assim, Laporte levou a vida
adiante. Dirigiu 18 documentários na África. Em 1999, conquistou um prêmio da Academie
Française por seus poemas reunidos em "La Sublime Porte des
Songes" (a sublime porta dos sonhos). Por décadas, ela manteve
os esboços de Picasso em um cofre, preocupada com ladrões.
Agora parece ser um bom momento para se separar deles. "Estou no final da estrada", disse.
Laporte se zanga quando se sugere que seu caso de amor com Picasso foi apenas um flerte inconseqüente, e que não tinha escala
semelhante à dos amores trágicos
do pintor. Ela acredita que talvez
tenha sido seu último grande
amor, apesar do casamento dele
com Roque nos anos finais de sua
vida. Mas está feliz com a maneira
pela qual tudo transcorreu. "Coloquei todas as lembranças em
uma caixa e as fechei", diz. "E a seguir fui cuidar de outras coisas."
Tradução Paulo Migliacci
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