|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Balé da Cidade dança no Municipal
Espetáculo "Onde Está o Norte?", às vezes performático, respeita e explora as características físicas de cada bailarino
Segunda peça composta por
Mário Nascimento para a
companhia usa temas existenciais e permite pequenos improvisos
GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Mário Nascimento, coreógrafo convidado pela diretora
do Balé da Cidade, Mônica
Mion, a compor duas peças para o grupo -a segunda delas,
"Onde Está o Norte?", estréia
amanhã no Municipal-, tem
corpo atlético, atarracado em
1,68 m de altura.
Aos 42 anos de
idade, ele hoje sabe bem o peso que
teve esse seu perfil físico no desenvolvimento de
uma linguagem
contemporânea
um tanto particular.
"Por mais que
eu me esforçasse
para acompanhar
meus colegas,
meu trabalho na
dança clássica era
mediano, e uma
das causas era a
minha altura."
Convicto, Nascimento extraiu matéria-prima
dessa suposta limitação. Como
coreógrafo, hoje trabalha "de
acordo com o tipo de corpo do
bailarino". Como se viu em
"Constanze", sua primeira peça
para o Balé da Cidade, apresentada em abril, os intérpretes da
companhia raramente tiveram
oportunidade igual, de adequar
também seus perfis a uma composição coreográfica. "Qualquer tipo físico oferece possibilidades", diz Nascimento.
A criação, portanto, não surge na cabeça do coreógrafo para
depois ser aplicada ao corpo de
baile, como se faz tradicionalmente, mas sim de
um reconhecimento entre as partes,
condensado em aulas práticas e ensaios. É um processo que permite inclusive pequenos
improvisos individuais dentro da
apresentação final,
tão adequados aos
códigos que determinam o andamento do balé que
não podem ser reconhecidos a olho
nu.
Por este princípio, "Onde Está o
Norte?", assim como aconteceu em "Constanze",
pende para uma teatralização
coreográfica em que é possível
ver, em cena, situações dramáticas, performáticas até. O fio
condutor é existencial e se alinha aos questionamentos filosóficos mais triviais, sobre buscas, propósitos e aflições a respeito da vida, das direções e fins
que ela pode tomar.
Acrobacias
Em cena, essa aplicação teórica se enovela em trios, duos,
solos e outras formações bastante acrobáticas, com movimentação que pende para o desequilíbrio do corpo, para quedas iminentes.
A composição de climas segue a trilha do multiinstrumentista Fábio Cardia, compositor cujo trabalho prima por
elaborações melodiosas, mas
que, a pedido de Nascimento,
também cria momentos conceituais. Já o figurino de Cáspio
Brasil traz peças compradas em
lojas mesmo, ou seja, tem traços bem cotidianos.
ONDE ESTÁ O NORTE?
Quando: dias 23, 24, 27, 28 e 29, às
21h; e dia 25, às 17h
Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nš, República,
tel. 3222-8698)
Quanto: R$ 10 a R$ 15
Texto Anterior: Contardo Calligaris: Os revolucionários silenciosos Próximo Texto: Por que ver Índice
|