São Paulo, quinta-feira, 22 de junho de 2006

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Balé da Cidade dança no Municipal

Espetáculo "Onde Está o Norte?", às vezes performático, respeita e explora as características físicas de cada bailarino

Segunda peça composta por Mário Nascimento para a companhia usa temas existenciais e permite pequenos improvisos


GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Mário Nascimento, coreógrafo convidado pela diretora do Balé da Cidade, Mônica Mion, a compor duas peças para o grupo -a segunda delas, "Onde Está o Norte?", estréia amanhã no Municipal-, tem corpo atlético, atarracado em 1,68 m de altura. Aos 42 anos de idade, ele hoje sabe bem o peso que teve esse seu perfil físico no desenvolvimento de uma linguagem contemporânea um tanto particular. "Por mais que eu me esforçasse para acompanhar meus colegas, meu trabalho na dança clássica era mediano, e uma das causas era a minha altura." Convicto, Nascimento extraiu matéria-prima dessa suposta limitação. Como coreógrafo, hoje trabalha "de acordo com o tipo de corpo do bailarino". Como se viu em "Constanze", sua primeira peça para o Balé da Cidade, apresentada em abril, os intérpretes da companhia raramente tiveram oportunidade igual, de adequar também seus perfis a uma composição coreográfica. "Qualquer tipo físico oferece possibilidades", diz Nascimento. A criação, portanto, não surge na cabeça do coreógrafo para depois ser aplicada ao corpo de baile, como se faz tradicionalmente, mas sim de um reconhecimento entre as partes, condensado em aulas práticas e ensaios. É um processo que permite inclusive pequenos improvisos individuais dentro da apresentação final, tão adequados aos códigos que determinam o andamento do balé que não podem ser reconhecidos a olho nu. Por este princípio, "Onde Está o Norte?", assim como aconteceu em "Constanze", pende para uma teatralização coreográfica em que é possível ver, em cena, situações dramáticas, performáticas até. O fio condutor é existencial e se alinha aos questionamentos filosóficos mais triviais, sobre buscas, propósitos e aflições a respeito da vida, das direções e fins que ela pode tomar.

Acrobacias
Em cena, essa aplicação teórica se enovela em trios, duos, solos e outras formações bastante acrobáticas, com movimentação que pende para o desequilíbrio do corpo, para quedas iminentes. A composição de climas segue a trilha do multiinstrumentista Fábio Cardia, compositor cujo trabalho prima por elaborações melodiosas, mas que, a pedido de Nascimento, também cria momentos conceituais. Já o figurino de Cáspio Brasil traz peças compradas em lojas mesmo, ou seja, tem traços bem cotidianos.


ONDE ESTÁ O NORTE?
Quando: dias 23, 24, 27, 28 e 29, às 21h; e dia 25, às 17h
Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nš, República, tel. 3222-8698)
Quanto: R$ 10 a R$ 15



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