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Burton para adultos e crianças
Sai no Brasil "O Triste Fim do Pequeno Menino Ostra & Outras Histórias", livro escrito e desenhado pelo diretor de "A Fantástica Fábrica de Chocolate", repleto de humor negro e personagens desajustados
ALEXANDRA MORAES
DA REPORTAGEM LOCAL
Dez anos após seu lançamento original, "O Triste Fim do
Pequeno Menino Ostra & Outras Histórias", livro escrito e
ilustrado pelo cineasta Tim
Burton, finalmente ganha edição brasileira, com lançamento
previsto para o dia 12 de julho.
É um livro infantil que sai por
uma editora de livros infantis
(Girafinha), mas até suscetibilidades adultas podem sair feridas da leitura. Fosse um programa de TV, seguindo o manual de classificação indicativa
do governo federal, o livro talvez estivesse indicado só aos
maiores de 16 anos: tem cenas
de violência familiar, suicídio,
sexo não-explícito e traição extraconjugal -se serve como
atenuante, o amante da adúltera é um microondas.
A correção política não tem
lugar nas historietas rimadas
traduzidas pelo professor de
estética do departamento de filosofia da USP Márcio Suzuki.
Também não cabem finais felizes, tornados quase obrigatórios nas narrativas infantis. No
lugar de noções pré-moldadas
sobre o bem, há humor negro
para contar histórias de desajustes e mortes melancólicas.
"Tim Burton mostra a mesma habilidade que tem, como
diretor, de desfazer as diferenças de idade", afirma Suzuki.
Para ele, pode haver, para as
crianças, "trechos de maior dificuldade de compreensão, mas
será interessante se isso for
uma ocasião de ler o livro e discuti-lo com os adultos, assim
como vão acompanhadas deles
assistir aos filmes do diretor".
Nos EUA, existem versões
especiais do livro com bonecos
dos personagens. Mas uma volta rápida por sites como a Amazon, por exemplo, revela tias
revoltadas com o risco de serem tachadas de malucas por
terem dado o combo de presente a crianças sem conhecer direito o conteúdo da obra.
O caso do Pequeno Menino
Ostra é modelar. O poema dedicado a contar seu triste fim
-depois de seu triste início, já
rejeitado pela mãe por cheirar
"a oceano e alga marinha"- fala de um pai com disfunção erétil avisado por um médico de
que comer ostras propicia "um
desempenho sexual extra".
Nas histórias, os bebês-monstro pululam e também as
mães pouco afeitas a gostar deles. Quando aparece uma genitora mais zelosa, como a do Bebê Âncora, ela se dá mal.
O show de aberrações e de
tormentos, tão caros ao universo de Burton -diretor de "A
Fantástica Fábrica de Chocolate" e "A Noiva-Cadáver"-, não
é, no entanto, feito apenas de
desgraças tragicômicas.
Caso, por exemplo, do Menino Brie, de destino mais feliz. O
garoto-queijo, atormentado
por sonhar que pode ser reduzido a uma fatia, encontra amizade no vinho Chardonnay.
Suzuki, pesquisador do romantismo alemão, lembra que,
"assim como nos filmes [de
Burton], no livro as personagens possuem traços essenciais
do romantismo, pois se mostram inadequadas ou estranhas
à sociedade, e sua inépcia ou estranheza constitui justamente
um contraponto crítico à normalidade acomodada". Revestido por ataduras, recheado de
besouros ou fantasiado de humano, o mundo desconjuntado
da turma do Menino Ostra é
mais real do que parece. Talvez
seja esse o seu aspecto verdadeiramente chocante.
O TRISTE FIM DO PEQUENO MENINO OSTRA & OUTRAS HISTÓRIAS
Autor: Tim Burton
Tradução: Márcio Suzuki
Editora: Girafinha
Quanto: R$ 27 (123 págs.)
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