São Paulo, sexta-feira, 22 de junho de 2007

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Burton para adultos e crianças

Sai no Brasil "O Triste Fim do Pequeno Menino Ostra & Outras Histórias", livro escrito e desenhado pelo diretor de "A Fantástica Fábrica de Chocolate", repleto de humor negro e personagens desajustados

ALEXANDRA MORAES
DA REPORTAGEM LOCAL

Dez anos após seu lançamento original, "O Triste Fim do Pequeno Menino Ostra & Outras Histórias", livro escrito e ilustrado pelo cineasta Tim Burton, finalmente ganha edição brasileira, com lançamento previsto para o dia 12 de julho.
É um livro infantil que sai por uma editora de livros infantis (Girafinha), mas até suscetibilidades adultas podem sair feridas da leitura. Fosse um programa de TV, seguindo o manual de classificação indicativa do governo federal, o livro talvez estivesse indicado só aos maiores de 16 anos: tem cenas de violência familiar, suicídio, sexo não-explícito e traição extraconjugal -se serve como atenuante, o amante da adúltera é um microondas.
A correção política não tem lugar nas historietas rimadas traduzidas pelo professor de estética do departamento de filosofia da USP Márcio Suzuki.
Também não cabem finais felizes, tornados quase obrigatórios nas narrativas infantis. No lugar de noções pré-moldadas sobre o bem, há humor negro para contar histórias de desajustes e mortes melancólicas.
"Tim Burton mostra a mesma habilidade que tem, como diretor, de desfazer as diferenças de idade", afirma Suzuki. Para ele, pode haver, para as
crianças, "trechos de maior dificuldade de compreensão, mas será interessante se isso for uma ocasião de ler o livro e discuti-lo com os adultos, assim como vão acompanhadas deles assistir aos filmes do diretor".
Nos EUA, existem versões especiais do livro com bonecos dos personagens. Mas uma volta rápida por sites como a Amazon, por exemplo, revela tias revoltadas com o risco de serem tachadas de malucas por terem dado o combo de presente a crianças sem conhecer direito o conteúdo da obra.
O caso do Pequeno Menino Ostra é modelar. O poema dedicado a contar seu triste fim -depois de seu triste início, já rejeitado pela mãe por cheirar "a oceano e alga marinha"- fala de um pai com disfunção erétil avisado por um médico de que comer ostras propicia "um desempenho sexual extra".
Nas histórias, os bebês-monstro pululam e também as mães pouco afeitas a gostar deles. Quando aparece uma genitora mais zelosa, como a do Bebê Âncora, ela se dá mal.
O show de aberrações e de tormentos, tão caros ao universo de Burton -diretor de "A Fantástica Fábrica de Chocolate" e "A Noiva-Cadáver"-, não é, no entanto, feito apenas de desgraças tragicômicas.
Caso, por exemplo, do Menino Brie, de destino mais feliz. O garoto-queijo, atormentado por sonhar que pode ser reduzido a uma fatia, encontra amizade no vinho Chardonnay.
Suzuki, pesquisador do romantismo alemão, lembra que, "assim como nos filmes [de Burton], no livro as personagens possuem traços essenciais do romantismo, pois se mostram inadequadas ou estranhas à sociedade, e sua inépcia ou estranheza constitui justamente um contraponto crítico à normalidade acomodada". Revestido por ataduras, recheado de besouros ou fantasiado de humano, o mundo desconjuntado da turma do Menino Ostra é mais real do que parece. Talvez seja esse o seu aspecto verdadeiramente chocante.


O TRISTE FIM DO PEQUENO MENINO OSTRA & OUTRAS HISTÓRIAS
Autor:
Tim Burton
Tradução: Márcio Suzuki
Editora: Girafinha
Quanto: R$ 27 (123 págs.)


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