São Paulo, domingo, 22 de junho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Calma, Betty!

A protagonista norte-americana de "Ugly Betty" reclama do excesso de foco "na vaidade" e diz não achar a menor graça nos "facelifts"

Com ao menos 15 versões pelo mundo, a personagem desajeitada e feiosa vai à China, enquanto sua adaptação mais premiada chega ao terceiro ano nos EUA


CRISTINA FIBE
DA REPORTAGEM LOCAL

Ela já viajou a 76 países; ganhou ao menos 15 cópias (12 oficiais, as outras não-autorizadas); e prepara as malas para ir à China até o fim do ano.
A novela colombiana "Yo Soy Betty, la Fea" (1999) -ou "Betty, a Feia", exibida pela RedeTV! de 2002 a 2006-, de Fernando Gaitán, conquistou o mundo ao transformar em estrela uma protagonista feia e desajeitada, mas inteligente.
No Brasil, está sendo mostrada a versão americana, a "mais diferente", segundo o autor. O final da primeira temporada irá ao ar nesta quarta, às 20h, pelo canal Sony, segundo o qual o episódio foi visto por mais de 10 milhões de pessoas nos EUA.
Com uma protagonista latina, "Ugly Betty" já ganhou 32 prêmios no país, inclusive Emmys e Globos de Ouro. Passaram pela série, que tem terceira temporada confirmada, estrelas como a atriz Salma Hayek, a estilista Vera Wang e a cantora Victoria Beckham.
A responsável por boa parte desse reconhecimento é a atriz America Ferrera, 24, nascida em Los Angeles e descendente de hondurenhos. "Fico feliz por viver em um tempo em que isso é possível [ser latina e ter uma série de sucesso]", diz, em entrevista à Folha, por telefone.
"Há dez, 15 anos, não acho que um canal [dos EUA] estivesse pronto para uma "Betty" ou uma latina "mainstream", como Eva Longoria em "Desperate Housewives'", compara.
Ferrera reclama do excesso de foco de "muitas sociedades na vaidade, nas pessoas belas e na graça de ser uma pessoa perfeita, com implantes nos seios e na bunda e "facelifts'".
"Há tantas maneiras de ser "bonita"... Conheço um monte de mulheres lindas ou garotas que nem cresceram e estão insatisfeitas consigo mesmas."
Para o criador de "Betty", esse é justamente o fator que faz da personagem um sucesso mundial. Além da vaidade, Gaitán vê na combinação de "drama, humor e conflitos de escritório" outro aspecto que a torna única e universal.

Sem sexo
Depois de Índia, Israel, México e outros, Gaitán fechou com a China para adaptarem "o projeto mais importante de sua carreira", e terá que vê-lo submetido a modificações radicais.
"É uma versão de até 80 capítulos, uma limitação imposta pelos chineses", conta Gaitán. E, segundo agências internacionais, a "Betty" chinesa, que terá investimento de US$ 21 milhões, evitará diálogos sobre sexo, personagens homossexuais e mães solteiras.
"Sei que há versões da Betty em todo o mundo... E o que é mais consistente em todas é que o coração as faz brilhar. Ela é um coração andante. Mas, por causa das atrizes, suas aparências e maneiras de atuar, as personagens são muito diferentes", opina Ferrera.
Ela diz ter assistido à original para se preparar. "Vi dois episódios, porque queria ter uma noção de por que era um sucesso tão grande. Foi mágico. Achei maravilhoso e não quis continuar assistindo, porque não queria imitar ninguém."
A atriz refere-se à colombiana Ana María Orozco, a exagerada Betty original, que, no fim, fica linda e se casa com o mocinho. Na vida real, Betty deu a Orozco seu papel mais célebre; depois dela, a atriz fez participações no cinema e na TV, e seu último trabalho foi como Susana Martinez, ou Susan Mayer, na versão colombiana de "Desperate Housewives" (na original, o papel é de Teri Hatcher).

Reclamações
No Brasil, espectadores de "Ugly Betty" reclamam da irregularidade nas exibições da série, pelo canal Sony. As principais queixas são o cancelamento de episódios ou a exibição, no lugar dos inéditos, de reprises, sem aviso prévio.
Questionado pela Folha, o canal respondeu: "O Sony Entertainment Television já identificou tais problemas e está trabalhando para minimizar e evitar esse tipo de ocorrência. O canal prima pela qualidade de sua programação e transmissão, e se preocupa com a satisfação de seus assinantes. Para tanto, já está fazendo um trabalho de apuração dos problemas que vêm acontecendo, para que possa evitá-los".


Texto Anterior: Raio-X
Próximo Texto: Foco: Para modelo da São Paulo Fashion Week, "não existe mulher feia"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.