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"JERUSALÉM: UMA CIDADE, TRÊS RELIGIÕES"
Livro percorre caminhos de uma geografia sagrada
PAULO DANIEL FARAH
EDITOR-ADJUNTO INTERINO DE MUNDO
Sagrada para cristãos, muçulmanos e judeus, Jerusalém
representa o principal ponto de
discórdia entre os líderes palestinos e israelenses que participam
da cúpula de Camp David, nos Estados Unidos.
Nas últimas duas semanas,
apresentaram-se várias propostas
para o estatuto permanente da cidade da paz (forma como ela é conhecida em hebraico, "Ierushalaim", e em árabe, "Al Quds Madinatu Salam"), mas prevalece o
impasse sobre seu destino.
Enquanto não se conhece o porvir de Jerusalém, sua história é tema do livro "Jerusalém: Uma Cidade, Três Religiões", de Karen
Armstrong, que se propõe a desvendar um pouco do passado,
desde os primeiros vestígios de
povoamento na região, e da geografia sagrada jerosolimita.
Lançada pela Companhia das
Letras, a obra mescla às considerações diacrônicas observações
sobre o papel das religiões na sociedade contemporânea e apreciações pessoais, como a de que
uma abordagem meramente racional para a resolução de divergências locais se revela estéril.
"A questão de Jerusalém é explosiva porque a cidade adquiriu
status de mito. Ambos os lados do
conflito e a comunidade internacional muitas vezes reclamam um
debate racional acerca de direitos
e de soberania, um debate livre de
toda ficção emocional. Seria ótimo, se fosse possível... Na religião,
a experiência sempre antecede a
explicação teológica", alega a autora, que identifica passagens históricas que lhe parecem confusas.
O livro traz informações atraentes sobre Jerusalém. Diz, por
exemplo, que a cidade parece ter
incorporado o nome do deus sírio
Shalem, identificado como o sol
poente ou a estrela vespertina. Segundo Armstrong, os jerosolimitas, de origem semita, compartilhavam a mesma visão de mundo
dos sírios. "Rushalimum (Jerusalém) provavelmente significa
"Shalem fundou'", afirma.
A autora procura cativar o leitor
e aproximá-lo dos relatos por
meio de ilustrações, fotos e comentários sobre a situação atual
da região. Ao explicar conflitos religiosos que a cidade testemunhou há mais de 2.000 anos, diz
que "ainda hoje a religião serve de
pretexto para a apropriação de
territórios no Oriente Próximo".
"Os judeus de túnica ou de farda
que beijavam as pedras do Muro
das Lamentações, as multidões de
famílias muçulmanas que, trajando suas melhores roupas, se dirigiam ao Haram al Sharif para fazer suas orações às sextas-feiras
mostraram-me, pela primeira
vez, o desafio do pluralismo religioso", diz a autora, cristã.
Os dois grandes templos judaicos existiram em Jerusalém, onde
fica o Muro das Lamentações, local mais sagrado para os judeus.
Segundo a Bíblia, Jesus Cristo
foi crucificado e sepultado (temporariamente, para os cristãos)
dentro da atual igreja do Santo Sepulcro. E Jerusalém, que abriga as
mesquitas do Domo da Rocha e
de Al Aqsa, é a terceira cidade
mais importante para o islamismo, após Meca e Medina.
Os acontecimentos de 1967,
quando Israel conquista militarmente Jerusalém Oriental, ocupam um capítulo inteiro. "A conquista israelense não correspondeu a uma "reunificação" da cidade, mas a sua ocupação por um
país hostil. Civis árabes haviam sido mortos... Saqueadores seguiram-se aos soldados; assaltaram
mesquitas e retiraram do Museu
Arqueológico da Palestina os manuscritos do mar Morto."
A demolição de casas palestinas
naquela época ("619 habitantes
do bairro de Magreb receberam
um prazo de três horas para evacuar suas casas") é descrita como
"o primeiro ato de um longo e
contínuo processo de "reforma
urbana" baseada na destruição da
Jerusalém árabe".
Ciente do ponto de referência
fundamental que Jerusalém encerra para as três grandes religiões
monoteístas, a escritora apresenta
uma argumentação cuja contestação parece impossível. "A cidade
só pode ser santa se for também
justa e compassiva com os fracos
e os indefesos. Infelizmente, porém, esse imperativo moral muitas vezes cai no esquecimento. Algumas das piores atrocidades
ocorreram quando a pureza de Jerusalém e o desejo de conquistar
sua grande santidade precederam
a busca da justiça e da caridade."
Jerusalém: Uma Cidade, Três
Religiões
Autora: Karen Armstrong
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 37 (549 págs.)
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